quarta-feira, 10 de abril de 2013

Atirador de elite

Foto: Tumblr
Nilis se consolidou como um grande atacante, utilizando de sua precisão no pé direito; para muitos foi o melhor atacante belga de sua geração e conta com o aval de Ronaldo e van Nistelrooy para assumir tal posto

Uma carreira encerrada por uma lesão medonha. Um artilheiro nato, dos mais letais e elogiado por um dos melhores de todos os tempos: para Ronaldo, ele foi o melhor parceiro de ataque, nos tempos de PSV. Dois anos de coleguismo com o belga serviram para que o brasileiro alçasse Luc Nilis ao posto de craque. Não que Nilis precisasse do aval do camisa 9, mas é sempre bom ter seus feitos ressaltados por um gênio do esporte.

Nascido em Hasselt, Luc começou sua carreira pelo Winterslag, em 1984. Grandalhão, se posicionava bem dentro da área, finalização perfeita. Desde muito jovem (e usando um bigode de Peter Selleck), já mostrava que seria um grande talento no ofício de centroavante. Precisou de apenas dois anos para seduzir o maior da Bélgica, o Anderlecht. 

Lá no Constant Vanden Stock, mostrou sua eficiência e o faro de gols. Marcou mais de 100 vezes em oito anos pelos Paars-wit e se tornou uma das maiores lendas do clube. Quatro vezes campeão belga, Nilis reinou absoluto ao lado de nomes como Arnor Gudjohnsen (pai DAQUELE Gudjohnsen), Luís Oliveira (aquele) e Stephen Keshi, zagueiro nigeriano que hoje é treinador da seleção de seu país.

Como o ditado popular criado por Dadá Maravilha dizia, a máxima na Jupiler League era "Com Nilis em campo, não tem placar em branco". Presente em duas Copas do Mundo, foi convocado por 12 anos para a seleção da Bélgica, mas não obteve muito êxito. Era daqueles matadores de clubes. 

E como sabia fazer gols bonitos. Um bomber, como diriam os italianos no alto de seu boom de artilheiros na década de 1980. Por falar em boom, Nilis tinha uma perna direita explosiva. Dela saíam chutes fortíssimos e extremamente técnicos. Batia na bola como poucos, de longe, do meio da rua, de fora do estádio. Gols de cobertura, de fúria, na veia, de peito do pé. Sua melhor temporada no Anderlecht foi em 1993-94, quando anotou 25 tentos em 30 aparições. A incrível média de 0, 83 chamou a atenção de outro clube grande da região.

Desembarcou no ano seguinte no país vizinho, passou seis anos. De 1994 a 2000 contou com companheiros como Ronaldo e Ruud van Nistelrooy, dois que ainda guardam grandes memórias do camisa 10. Bicampeão da Eredivisie em 1997 e 2000 e da KNVB Cup em 96, virou lenda em Eindhoven. Consagrado pelas pinturas que fazia em campo, ficou gravado na lembrança da torcida dos Boeren. 

Não foi difícil para Luc se transformar no principal goleador do PSV e da liga holandesa. Sempre mantendo a média acima dos 20 gols no campeonato, assumiu a faixa de capitão e liderou sua equipe ao sucesso doméstico, ainda que isso significasse falhar na Europa, com a eliminação prematura na Liga dos Campeões de 1997-98. Quando os Boeren voltaram à competição, Nilis já estava no Aston Villa, onde foi obrigado a encerrar a carreira.

Estreia de luxo e contusão chocante no Villa
Aos 33 anos, Nilis queria provar que poderia vingar em outro território que não fosse nos Países baixos. Em 2000, aceitou o convite do Aston Villa para jogar a Premier League. Logo na sua estreia, diante do Chelsea, no Villa Park, deixou um gol com a sua marca: um domínio com classe e uma bomba de canhota no alto da meta de Carlo Cudicini. 

Duas semanas depois, no dia 8 de setembro de 2000, um acidente que forçaria Luc a abandonar o esporte de forma prematura. Era dia de encarar o Ipswich, pela Premier League, onde o belga iniciava sua terceira aparição pelos Villans. Ao dividir uma bola na área com o arqueiro Richard Wright, Nilis teve sua canela prensada entre as duas pernas do adversário, que saiu para pegar com as mãos. Com a sua perna em frangalhos, o atacante quase desmaiou em campo e foi levado de maca. Para os mais fortes (ou curiosos), aqui está uma foto do lance

Foi a última vez que o goleador entrou em campo como profissional. Depois disso, virou treinador ofensivo do PSV. Inclusive tentou passar o legado de centroavante para o filho Arne Nilis, que parece não ter herdado os genes do pai.

Por um infortúnio, o futebol não pôde ver um dos mais versáteis atletas da posição em uma grande liga como a Premier League. Ainda que fosse pelo Aston Villa, que não brigava por títulos na época. Difícil achar outro que tenha estilo parecido. Talvez Falcao Garcia, ou o próprio van Nistelrooy, de quem foi companheiro nos tempos de PSV. 

Maior goleador belga da década de 1990? Bem, ao que depender das cartas de recomendação que foram escritas a seu respeito, Nilis certamente é o dono desse posto. Quem chega perto é o contemporâneo e meia-atacante Marc Wilmots, mas aí teríamos de contar outra história...

Felipe Portes é estudante de jornalismo, tem 23 anos e é redator na Trivela, além de ser o dono e criador da Total Football. Work-a-holic, come, bebe e respira futebol.

"O futebol na minha vida é questão de fantasia, de imaginário. Fosse uma ciência exata, seria apenas praticado por robôs. Nunca fui bom em cálculos e fórmulas, o lado humano me fascina muito mais do que o favoritismo e as vitórias consideradas certas. Surpresas são mais saborosas do que hegemonias.

No twitter, @portesovic.



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