terça-feira, 28 de maio de 2013

Giuly, o líder de todo um principado

Foto: Ouest-France
Ao enfrentar pela última rodada da Ligue 1 o PSG do recém-aposentado David Beckham, o Lorient também tinha um importante jogador pendurando as chuteiras: Ludovic Giuly, aos 36 anos, não mais jogará futebol profissional

A Veltins Arena recebeu bom público na noite de 26 de maio de 2004. Lado a lado estavam duas das maiores surpresas da história da Liga dos Campeões. Porto e Monaco haviam derrubado Manchester United, Lyon, Deportivo La Coruña, Lokomotiv Moscou, Real Madrid e Chelsea, respectivamente no mata mata. Foi uma edição de muitas zebras e agora era a hora de decidir qual dos dois sobreviventes levantaria a taça. Os Dragões de José Mourinho ou os Rouge-et-blanc de Didier Deschamps?

Alinhados, os capitães Jorge Costa e Ludovic Giuly apertavam as mãos e o espetáculo começava. Quis o destino que Giuly deixasse o palco principal por uma lesão na coxa e visse apenas de longe seus companheiros sucumbirem a uma atuação elétrica do Porto, consagrado em território alemão com um 3 a 0 imponente. O choro do camisa 8 monegasco foi algo a representar a desolação no vestiário dos alvirrubros. A sombra de um insucesso que assim como a chegada fulminante, veio da noite pro dia. 


Foto: Lyon mag
Reconhecimento em solo francês
Foram muitos os feitos do nanico meia nascido em Vénissieux. Ludovic foi criado nas categorias de base dos Gones, onde despontou como um bom talento. O porte físico só poderia colaborar para o seu estilo de jogo arisco, veloz e incisivo. Baixinho, Giuly ganhou reputação rapidamente jogando no Stade Gerland, que vivia época de vacas magras (e bote magras nisso).

De 1994 a 1997 defendeu as cores do Lyon, até ser contratado pelo estelar Monaco e jogar ao lado de promessas como David Trezeguet e Thierry Henry. Um timaço que estava nas cabeças do futebol local e queria alçar voos mais altos do que apenas a Ligue 1.

No Louis II, viveu alguns de seus melhores dias. Capitão da equipe monegasca e campeão francês em 2000, teve seu auge como líder do elenco na final europeia contra o Porto e logo depois saiu para o Barcelona, em 2004, onde se tornou um elemento fundamental no esquema de Frank Rijkaard. Carregou uma grande frustração ainda no Monaco quando se lesionou durante o primeiro tempo da decisão na LC e precisou ser substituído por Dado Prso. Os portugueses, comandados por José Mourinho, fizeram 3 a 0 e levaram o caneco.

Foto: FOX Sports Asia
Dias blaugranes e gol anulado em decisão europeia
Meia e ponta de bom passe e velocidade, Ludovic ocupava sempre a ala direita e aparecia bem para finalizar quando tinha espaço. Para crescer fora da França, se despediu de sua segunda casa no principado  e foi ser Bicampeão espanhol e vencedor na Liga dos Campeões em 2005-06 com o Barcelona, conseguiu apagar a mágoa de 2004 e teve um gol anulado contra o Arsenal, no jogo do título.

Técnico e regular, passou pelo menos seus dois primeiros anos no Camp Nou como um dos melhores atletas do elenco do Barça. Ao lado de Ronaldinho, Xavi e Eto´o, bastou ser coadjuvante para chegar mais longe. Tão longe quanto sonhava quando defendia o Monaco.

Acabou perdendo lugar no time titular para a chegada de uma lenda. O jovem Lionel Messi ia conquistando seu espaço na formação e ofuscou Giuly, negociado com a Roma em 2007. Uma temporada discreta que terminou com o título da Copa da Itália diminuiu um pouco a sensação de ter flopado na equipe giallorossa. Um ano cheio de altos e baixos serviu para que ele pegasse o caminho de volta para a França. 

Passando dos 30 anos, aceitou em 2008 a oferta do Paris Saint-Germain, que atravessava alguns de seus piores anos, beirando o rebaixamento. Ajudou os parisienses a vencer o título da Copa da França em 2010, na recuperação e transformação da equipe no fenômeno que é hoje.

Discussão com Ranieri tirou Giuly do Monaco
 (Foto: ASM Foot)
O regresso do capitão ao Louis II e a aposentadoria pelo Lorient
Recontratado pelo Monaco em 2011, atravessou o período em que o clube do principado estava na segunda divisão e fez um bom campeonato, novamente como líder e capitão. Entretanto, desavenças com Claudio Ranieri o tiraram do time titular e ele resolveu entrar em um acordo para sair novamente do Louis II.

Poderia ter sido vital na arrancada do ASM para a elite, mas foi liberado e assinou com o Lorient, onde pouco jogou e se aposentou nesse domingo sob aplausos da torcida dos Merluzas. Seu último gol foi contra o Sedan, em janeiro, pela Copa da França.

Giuly deixa o esporte aos 36 anos e com as devidas honras pelos serviços prestados ao Monaco, com o qual tem uma relação fortíssima. Até o Barcelona nos tempos de Ronaldinho tem muito a agradecer ao baixinho francês que serviu de garçom a Eto´o em sua passagem pelo Camp Nou.

Felipe Portes é estudante de jornalismo, tem 23 anos e é redator na Trivela, além de ser o dono e criador da Total Football. Work-a-holic, come, bebe e respira futebol.

"O futebol na minha vida é questão de fantasia, de imaginário. Fosse uma ciência exata, seria apenas praticado por robôs. Nunca fui bom em cálculos e fórmulas, o lado humano me fascina muito mais do que o favoritismo e as vitórias consideradas certas. Surpresas são mais saborosas do que hegemonias.

No twitter, @portesovic.

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