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Foto: Jornal do Brasil |
Se o tempo pudesse passar logo, seria bom que corresse logo até o mês de junho. A partir desse momento, o mundo vai parar em torno de um só evento, que a cada quatro anos revive a magia de um esporte que cria heróis insólitos, conta histórias reais tão inacreditáveis quanto a fantasia. Isso é Copa.
O primeiro capítulo da nossa viagem pelos mundiais se passou em 1962. Naquele ano, o Brasil chegava favoritíssimo ao Chile para tentar o bicampeonato, movimentado por um time extremamente talentoso, no topo de sua forma. O fato de ser o defensor do título tornou a Seleção um alvo para qualquer outro país que quisesse se notabilizar. Em nenhum momento os brasileiros tiveram vida fácil no torneio.
A começar pelo jogo contra o México, vencido por 2 a 0 com gols de Zagallo e Pelé. Enfrentando um adversário que marcou demais, o escrete canarinho não conseguiu fazer valer sua superioridade. Diante da Tchecoslováquia, no compromisso seguinte, um empate em zero a zero. O placar ficou barato se comparado ao desfalque de Pelé, que se lesionou e ficou fora do resto da disputa. Para decidir sua sobrevivência na competição, o Brasil precisou usar um de seus recursos mais característicos: a malandragem.
Contra a Espanha, Nilton Santos cometeu um pênalti quando a partida já estava 1 a 0 para a Fúria. Esperto, o defensor deu um passo para a frente, insinuando que a falta havia sido fora da área. O juiz comprou o gesto de Nilton e o resto é história: Amarildo, o responsável por substituir Pelé, marcou os dois gols da virada. 2 a 1. Brasil classificado.
O duelo seguinte, já na fase de quartas de final, foi contra a Inglaterra. Garrincha resolveu a parada com dois gols e o placar foi de 3 a 1. Vavá anotou o outro e Hitchens diminuiu para os ingleses. Os dois encarregados do triunfo repetiriam a dose diante do Chile, na semifinal. 4 a 2 contra os donos da casa, um doblete de Mané e outro do "Peito de Aço". Pela decisão, novamente a Tchecoslováquia, único concorrente que não sabia o que era perder do Brasil naquela edição.
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Em pé - Djalma Santos, Zito, Gylmar, Zózimo, Nílton Santos e Mauro; Agachados - Garrincha, Didi, Vavá, Amarildo e Zagallo Foto: Mochileiro |
Os eslavos saíram na frente com Masopust e mostraram que talvez não seria tão moleza renovar o título no Estádio Nacional, em Santiago. Restou ao "Possesso" colocar os brasileiros novamente no jogo, dois minutos depois. E foi aí que ficou claro: a geração em questão era tão fantástica que qualquer um que entrasse no lugar de Pelé naquele fatídico embate pela primeira fase, faria a diferença. Por teimosia dos deuses da bola, foi Amarildo, não podia não ser Amarildo.
Com 23 anos, o baixinho mostrou porque é que foi o escolhido para uma tarefa tão peculiar. Ninguém contesta que 62 foi a Copa de Garrincha, ou até mesmo de Vavá, que também foi às redes quatro vezes. Acontece que nos dois momentos em que o Brasil esteve perdendo, foi o Possesso quem apareceu para salvar a pátria. A história se repetiu na finalíssima, só que com Zito e Vavá selando a conquista no segundo tempo.
No fim, uma grande baixa resultou na consagração de um grande jogador do futebol brasileiro. Um ponta-esquerda com rosto sereno, mas que era fulminante em decisões, um monstro com semblante de moleque arteiro. Não foi só a taça que serviu de recompensa. O carinho de Pelé nos vestiários era o agradecimento de toda uma nação ao que Amarildo havia feito nas canchas chilenas.
"O futebol na minha vida é questão de fantasia, de imaginário. Fosse uma ciência exata, seria apenas praticado por robôs. Nunca fui bom em cálculos e fórmulas, o lado humano me fascina muito mais do que o favoritismo e as vitórias consideradas certas. Surpresas são mais saborosas do que hegemonias."
No twitter, @portesovic.
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