quarta-feira, 14 de agosto de 2013

A goleada mais frustrante da história do M´gladbach

Foto: Bild
Uma das maiores goleadas da história da Bundesliga não foi dada pelo Bayern num adversário sem expressão. Se engana quem pensa que os bávaros sempre dominaram a Alemanha e massacraram seus rivais durante os 50 anos desde a estruturação do campeonato alemão na forma como conhecemos hoje.

Nos anos 70, um time ameaçou a hegemonia do Bayern e bateu de frente até o início da década seguinte: cinco vezes campeão alemão entre 70 e 77, o Borussia M´gladbach teve o seu auge doméstico e por pouco não conquistou a Europa em 77, quando foi derrotado na decisão da Copa dos Campeões pelo Liverpool.

A última rodada da edição 1977-78 viveu uma grande disputa entre o Köln de Harald Schumachar, Dieter Müller e Pierre Littbarski contra o M´gladbach de Berti Vogts, Rainer Bonhof e Allan Simonsen. Os Bodes visitavam o St. Pauli e os Potros recebiam o Borussia Dortmund, que na época era um time que brigava pela metade inferior da tabela. No dia 24 de abril de 1978, os aurinegros passaram o que seria a maior vergonha de toda a vida do clube.

Um goleiro decepcionado
Promovido à elite em 1976, o Dortmund chegava sem muita expectativa ao fim da temporada sob o comando de Otto Rehhagel. E antes daquela tarde no Rheinstadion, visto que o habitual campo do M´gladbach, o Bökelberg, estava em reforma, o goleiro Peter Endrulat teria a chance de ser titular na equipe aurinegra. Rehhagel bancou sua titularidade, mas não sabia que a diretoria do Dortmund havia recusado uma renovação de contrato com o jogador. Reserva e renegado, Endrulat não chegou a propositalmente facilitar os gols que aconteceriam, mas também não fez o máximo que poderia.
Uma missão impossível

Enquanto o Köln chegava em vantagem para a última rodada, o pessoal do M´gladbach sabia que teria de vencer, torcer por uma derrota ou empate dos Bodes e ainda reverter um saldo de 10 gols abaixo dos concorrentes ao título. Era uma missão quase impossível, mas o técnico Udo Lattek acreditava que seus comandados poderiam chegar lá. Com um minuto de jogo, Jupp Heynckes abriu o placar e deu esperanças aos torcedores.

Foto: Goal.com
M´gladbach terrível ou Dortmund rendido?
Com 32 minutos do primeiro tempo, o placar estava 5 a 0 para o M´gladbach. Heynckes fez três gols, Nielsen e Del´Haye completaram. Pressionado, o Köln precisou de 28 minutos para vencer o bloqueio defensivo do St. Pauli no Millerntor-Stadion, em Hamburgo. Ao intervalo, os placares estavam assim: 6×0 para o M´gladbach e 0×1 para o Köln. O objetivo já não era tão inalcançável assim.

O tempo passou e o Köln desandou a marcar gols no St. Pauli. Okudera e Flohe ampliaram a vantagem e fizeram 3×0 com 25 minutos do segundo tempo. A essa altura o placar no Rheinstadion estava 9×0 para os Potros. Foi aí que Heynckes resolveu perguntar ao pessoal do banco de reservas quanto ainda faltava para que eles atingissem o saldo necessário: “Quando perguntávamos ao banco com 9×0 o que precisávamos fazer, responderam que ainda queriam mais três gols para ultrapassarmos o Köln. Vocês estão malucos?”, comentou o atacante ao Rheinische Post em 2008.

Frustração com 12-0
E eles fizeram esses três gols. O próprio Heynckes se encarregou de marcar o décimo. Lienen marcou o 11º e Kulik completou já nos acréscimos. A torcida do Dortmund já havia ido embora após o intervalo e nem quis permanecer para ver o resto do vexame. O problema é que Cullmann e Okudera ampliaram para 5×0 e mantiveram a distância necessária para garantir a salva de prata para o Köln, que terminou aquela Bundesliga com os mesmos 48 pontos do M´gladbach, só que com duas vitórias e três gols a mais.

A apreensão do banco de reservas do M´gladbach foi algo comovente. Nunca um time foi tão longe em busca de um objetivo e a postura dos Potros em campo era semelhante a de um clube que nunca havia conquistado tal título, como se a vida dependesse disso.

Do lado perdedor, muitas mudanças. Rehhagel foi demitido e Endrulat foi parar no Tennis Berlin, na terceira divisão, onde se aposentou em 1981, com apenas 27 anos de idade. Era o seu sexto jogo pelo Dortmund, quando ele substituía o titular Horst Bertram, lesionado. Endrulat preferiu ficar em campo nos 45 minutos finais, apesar do pedido de Rehhagel que ele saísse. Mal sabia que isso mudaria toda a sua carreira.

*Postado originalmente na Trivela

Felipe Portes é estudante de jornalismo, tem 23 anos e é redator na Trivela, além de ser o dono e criador da Total Football. Work-a-holic, come, bebe e respira futebol.

"O futebol na minha vida é questão de fantasia, de imaginário. Fosse uma ciência exata, seria apenas praticado por robôs. Nunca fui bom em cálculos e fórmulas, o lado humano me fascina muito mais do que o favoritismo e as vitórias consideradas certas. Surpresas são mais saborosas do que hegemonias.

No twitter, @portesovic.

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