sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Cão de guarda

Foto: PES Stats Database
Dino Sani foi um perfeito retrato do futebol nos anos 50: cheio de classe e com técnica refinada, fez muito sucesso pelo São Paulo e pelo Milan como um meia de chegada incrível

Volante classudo e de uma geração gloriosa, o brasileiro Dino Sani deu o ar da graça nos gramados italianos, depois de se consagrar em clubes brasileiros e vencer uma Copa do Mundo com a seleção de 1958, mesmo que como reserva. Contemporâneo e companheiro de craques como Cesare Maldini, Giovanni Trapattoni, Gianni Rivera, Alcides Ghiggia e Amarildo, Dino jogou pelo Milan entre 1961 e 1964 e conquistou um scudetto e uma Copa dos Campeões pela agremiação rossonera.

Com baixa estatura, Dino tinha como grandes características a marcação e a roubada de bola. Atuava como um verdadeiro cão de guarda da defesa e tinha facilidade para sair jogando. Em um tempo de jogadores mais franzinos, Sani aproveitou-se de seu genótipo mais robusto para se sobressair e impor respeito aos adversários. Somada a isso, sua agilidade, visão de jogo privilegiada, capacidade de trabalhar em grupo e bom chute, Dino conquistou primeiro os gramados de São Paulo, depois os da Argentina, e, mais tarde os da Itália.

Começando sua carreira profissional no Palmeiras no ano de 1950, Sani foi negociado com o XV de Jaú em 1951 e pouco depois com o Comercial, onde despontou para o futebol em alto nível em 1953. As boas atuações renderam-lhe uma vaga no São Paulo, que procurava um substituto para Bauer, ídolo do time. Pela equipe do Morumbi, Dino conquistou um Campeonato Paulista e permaneceu até 1959. Atuou ao lado de grandes jogadores, como Canhoteiro, De Sordi, Mauro, José Poy e Zizinho.

Reserva na campanha do primeiro título mundial brasileiro em 1958, na Suécia, em função de uma lesão antes do terceiro compromisso de sua seleção na Copa, o volante apenas acompanhou a consagração de nomes como Zito, Zizinho, Pelé, Garrincha, Vavá, Zagallo, Bellini, entre outros. Ainda assim, recebeu boa proposta após a Copa e foi tentar a sorte no Boca Juniors. Na Argentina, permaneceu por dois anos, já caracterizado por sua marcação impecável, posicionamento ímpar e passes precisos. Trabalhou na equipe xeneize ao lado de Antonio Rattín, bandeira boquense dos anos 1950 e 60

A passagem por Buenos Aires não rendeu títulos, mas com bom futebol, Dino partiu para a Itália para defender as cores do Milan. Estreou pelos rossoneri no dia 12 de dezembro de 1961, em grande vitória contra a rival Juventus (5 a 1) e logo caiu nas graças da torcida milanista e do então treinador, Nereo Rocco. O brasileiro foi campeão da Serie A já na sua primeira temporada, em campanha onde os pupilos de Rocco obtiveram 24 vitórias, cinco empates e cinco derrotas.

Caminhada essa que teve vitórias memoráveis sobre os grandes rivais, Inter e Juventus. No primeiro turno, o bom time do Milan venceu o dérbi de Milão por 4 a 2 e bateu a Juventus por 5 a 1. A outra vitória contra o time de Turim, no returno, também foi incontestável: 4 a 2. Com cinco pontos de vantagem sobre os rivais nerazzurri de Helenio Herrera, Giacinto Facchetti e Sandro Mazzola, o Milan não encontrou muitas dificuldades para obter o scudetto, com bom aproveitamento dentro e fora de casa.

A era de sucesso milanista prosseguiu até a época seguinte, quando a equipe de Maranello conquistou seu primeiro título europeu, em 1963. Naquela campanha, o time de Dino deixou pelo caminho o US Luxembourg, o Ipswich, Galatasaray e o Dundee, antes do desafio contra o Benfica do lendário Eusébio. A partida épica em Londres terminou em 2 a 1 para os italianos, com dois gols de José Altafini, o Mazzola. Sani foi titular na decisão e um dos pilares do grupo vencedor.

Em 1964, então, ele voltou ao Brasil, já com condição física longe do ideal, aos 32 anos. Encerrou sua carreira no Corinthians, onde levantou sua última taça: a do Torneio Rio-São Paulo de 1966. Dois anos depois, se aposentou e começou carreira de treinador no próprio Corinthians, substituindo Osvaldo Brandão. Com trabalhos notáveis no Internacional (tricampeão gaúcho em 1971, 72 e 73) e no Peñarol (bicampeonato uruguaio em 1978 e 79) perdurou na profissão até 1991, quando se desligou definitivamente do esporte. Não sem antes revelar nomes como Rivellino, Paulo César Carpegiani e Jorge Mendonça.


Felipe Portes é estudante de jornalismo, tem 22 anos e é redator no Trivela, além de ser o dono e criador da Total Football. Work-a-holic, come, bebe e respira futebol.

"O futebol na minha vida é questão de fantasia, de imaginário. Fosse uma ciência exata, seria apenas praticado por robôs. Nunca fui bom em cálculos e fórmulas, o lado humano me fascina muito mais do que o favoritismo e as vitórias consideradas certas. Surpresas são mais saborosas do que hegemonias.

No twitter, @portesovic.

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