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Foto: Placar |
Neto precisou de poucos anos no Corinthians para mostrar o seu talento; grande nome da primeira conquista do Brasileirão pelo alvinegro, o meia até hoje é querido como jogador pela Fiel
Foi com 13 anos de idade que José Ferreira Neto, nascido em Santo Antônio da Posse (município próximo à Campinas) ingressou nas categorias de base da Ponte Preta. A trajetória na Macaca, porém, foi curta. Um ano depois ele mudou de lado, na intensa rivalidade do futebol da cidade, e passou a defender o Guarani.
Foi com 13 anos de idade que José Ferreira Neto, nascido em Santo Antônio da Posse (município próximo à Campinas) ingressou nas categorias de base da Ponte Preta. A trajetória na Macaca, porém, foi curta. Um ano depois ele mudou de lado, na intensa rivalidade do futebol da cidade, e passou a defender o Guarani.
Depois de quatro anos nas categorias de base, ingressou, em
1984, no elenco profissional do Bugre. E não precisou de muito tempo para
chamar a atenção por sua habilidade no meio de campo. A primeira passagem pelo
Brinco de Ouro da Princesa teve tanto destaque que fez com que alguns mais
empolgados o comparassem a Maradona, que, no auge de sua trajetória pela
seleção argentina, seria o craque da Copa do Mundo de 1986.
Os fracassos em
clubes grandes (e um gol antológico entre eles)
73 jogos (e 59 gols) depois, o jogador foi para o Bangu,
onde passou o segundo semestre de 1986. De lá, já em 87 foi para o então
campeão brasileiro, São Paulo (que venceu o próprio Guarani na final). Sua
passagem pelo tricolor, apesar do título estadual, foi fracassada. Sem
conseguir se destacar em um time repleto de craques, seu destino foi, mais uma
vez, o alviverde campineiro, desta vez para a temporada de 1988. O Bugre, onde
Neto reencontrou o bom futebol, chegou até a final do Campeonato Paulista
daquele ano, tendo o Corinthians como adversário. Nessa decisão, ele marcaria
um gol que entraria para a história do futebol.
O primeiro tempo da primeira partida do confronto já estava
por se encerrar quando o craque do Guarani recebeu um lançamento no centro da grande área. Então, Neto acertou uma bicicleta
no canto direito do gol de Ronaldo, abrindo o placar para os visitantes e
calando os 77 mil presentes no Estádio do Morumbi.
O campeão foi o clube da capital, mas a campanha bugrina e principalmente o gol na decisão, deram ainda mais visibilidade ao meia que, no
mesmo ano, havia ganho a medalha de prata com a Seleção Brasileira nas
Olimpíadas de Seul.
Em 1989, Neto rumou para outro alviverde: desta vez, o da
Capital. Frequentemente improvisado na lateral esquerda pelo treinador Emerson
Leão, a passagem pelo Palmeiras também não obteve grande brilho. Ainda em 89,
como parte de uma troca entre o clube e seu maior rival, o menino de Santo Antônio da Posse foi para o
Corinthians, carregado de incertezas. Será que ele finalmente conseguiria jogar
em alto nível por um time grande?
1990: o ano de Neto. Só
Lazaroni não viu...
O alvinegro do Parque São Jorge não montou um elenco dos
sonhos para a temporada de 1990. Tanto, que não era apontado como favorito ao
título brasileiro daquele ano (o Timão, até então, nunca havia conquistado um
torneio de nível nacional). O início da campanha, com duas derrotas, também não
foi muito promissor.
Só que, com o tempo, a equipe foi entrando nos eixos. E,
para isso, um jogador foi fundamental: Neto, que desde os primeiros jogos do
Brasileirão se assumiu como o chefe de um escrete que estava longe de ser
brilhante. E isso não se resume a sua precisão absurda nas cobranças de falta,
ou à sua maestria no meio de campo, alinhada à indiscutível intimidade com a
bola. Era, acima de tudo, um líder, dentro e fora dos gramados.
Acima de tudo, ele não desistiu de um time que estava em um nível técnico
bastante inferior ao seu. Assim, pôde crescer e, finalmente, mostrar o seu
futebol em um gigante do futebol paulista.
Como se sabe, 1990 foi ano de Copa. Após os extraordinários
esquadrões não-campeões em 1982 e 86, a Seleção Canarinho não vivia uma grande
fase. Esse momento, aliado ao extraordinário desempenho do camisa 10 alvinegro,
colocava Neto entre os prováveis convocados pelo técnico Sebastião Lazaroni para o Mundial. Contudo, a lista excluiu o craque corintiano de uma fracassada
campanha da amarelinha na Itália.
Voltando ao Brasileirão, o Corinthians foi o penúltimo
dentre os oito classificados para as quartas de final. O adversário nesta etapa
foi o vice-líder Atlético Mineiro, considerado favorito. Na primeira perna do
duelo, os paulistas perdiam, em casa, por 1-0. Faltavam quinze minutos para o
fim da partida, quando Neto testou para o gol de empate. Já nos cinco minutos
finais, a bola sobrou para o “xodó da Fiel” tocar para o fundo do gol
atleticano e decretar a virada. Após o 0-0 no jogo de volta, o passaporte para
a semifinal foi garantido. E a história se repetiu, no confronto contra o
Bahia.
No Pacaembu, o placar era de 1-1 quando o líder da jornada alvinegra
fez, de falta, o gol de mais uma virada (o jogo de volta, foi, outra vez, 0-0).
Na final, foi mais uma vez decisivo, ao deixar Wilson Mano livre para marcar o
tento que garantiu a vitória do selecionado corintiano na primeira batalha da
decisão. Após outro 1-0 na segunda perna, o Timão se sagrava, pela
primeira vez, campeão brasileiro. Após fracassar nos outros dois times grandes
da Capital, o craque alcançou a consagração, sendo o herói da campanha.
A cusparada e a ida
para o exterior
Apesar de ser o ano de um de seus mais bonitos gols (em uma
magistral cobrança de falta, em pleno Maracanã) e de sua ida à Copa América com
a Seleção Brasileira, o ano de 1991 ficará marcado por um ponto nada positivo
na carreira deste craque campineiro. Em
13 de outubro, durante um clássico contra o Palmeiras, Neto deu uma cusparada
no árbitro Armando Marques, em virtude de sua expulsão. Este fato fez com que o
técnico Cilinho o afastasse do time titular antes mesmo de sua suspensão por
quatro meses. A repercussão do caso foi tanta, que o valor do passe do
corinthiano caiu para menos da metade (antes de toda a história, valia mais de
4 milhões de dólares). Apesar disso, ele se manteve no Parque São Jorge
até 1993. Após a perda do Campeonato Paulista para o Palmeiras, o “xodó” foi
para a Colômbia, onde jogou pelo Millonários.
Os reflexos da
escolha de ser “boleiro”
“Eu nunca fui um
atleta. Eu era um boleiro.” É assim que Neto define sua carreira. Sua forma
física já havia o causado problemas no Palmeiras de Emerson Leão, que, nos
treinamentos, o colocava para treinar com outros “gordinhos”. Além de seu peso
um pouco acima do normal, problemas no tornozelo encurtaram o tempo em que ele
jogou em alto nível.
O jogador voltou ao Brasil em 1994, com 28 anos, para jogar
no Santos (completando assim, as passagens por todos os grandes de São Paulo).
Com essa idade, muitos atletas conseguem atuar em alto nível. Mas uma carreira
pouco regrada, diferenciando o “boleiro” do “atleta”, frustrou a reta final de
sua história no futebol. Após sua apagada passagem pela Vila Belmiro, Neto
passou pelo Matsubara-PR, voltou ao Guarani, atuou pelo Araçatuba-SP e teve uma
passagem apagada pelo Corinthians, entre 1996 e 97, quando esteve mais no banco
de reservas do que no gramado. E foi como reserva que ele conquistou seu último
título: o Paulistão de 1997.
O eterno “xodó da Fiel” ainda atuou pelo Osan Indaiatuba e
pelo Paulista de Jundiaí, antes de encerrar sua carreira aos 33 anos, em 1999,
pelo Deportivo Itália, da Venezuela. De “xodó da Fiel” a “Craque Neto” - como diz Luciano do
Valle, com quem, atualmente, atua nas transmissões de futebol da Band. Um dos
maiores craques da história de um dos clubes mais populares do país. Líder em
campo, irreverente fora dele.
Pode se dizer que, como boleiro, ele conseguiu muito mais do
que conseguiria como atleta. Não há modo melhor de definir sua
carreira e sua personalidade.
Leonardo Dahi tem 14 anos e é estudante. Nas horas vagas comanda o Preto no branco, verde no rosa e divide as atenções com o Boleiros da geração Y e Brasil decide.
"O que mais me fascina no futebol, são as reações - às vezes, das mais inesperadas - que ele provoca. O sujeito mais tímido é capaz de cantar alto, o ateu mais convicto aprende a rezar. Por tratar com o imponderável, o futebol é capaz de transformar as pessoas, ainda que por apenas 90 minutos."
No twitter, @dahileonardo.
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