terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Club Tijuana e o cartel

Campeão do Apertura mexicano em 2012, o jovem Tijuana é estreitamente ligado ao cartel de narcotraficantes da cidade (Foto: La Prensa San Diego)
Ligado ao cartel de narcotraficantes da cidade de Tijuana, o clube homônimo disputará a Libertadores pela primeira vez em sua história no ano de 2013. Em 1989, o Nacional de Medellín ostentava ligações semelhantes e sagrou-se campeão da mais importante competição interclubes da América do Sul

No Grupo 5 da Libertadores, além de Millonarios da Colômbia e San José de Oruro, o Corinthians terá pela frente um clube mexicano de jovem e controversa história, mas que ostenta muitas glórias desde quando surgiu. Fundado em 2007, o Club Tijuana Xoloitzcuintles de Caliente sagrou-se campeão das divisões de acesso e alcançou a glória na elite já em 2012. No entanto, as ligações com o cartel de narcotraficantes da cidade colocam um ponto de discórdia e polêmica desde quando foi fundado.

A facção de Tijuana, responsável por controlar toda a região noroeste do México, é o maior e um dos mais violentos cartéis de narcotraficantes mexicanos. Aliado ao grupo, está Jorge Hank Rhon, ex-prefeito do município e dono do clube da cidade, que conta com diversas acusações relacionadas a porte ilegal de armas, além de suspeita de envolvimento em alguns crimes, sem falar na lavagem de dinheiro operada pela organização criminosa.

As acusações que seu dono ostenta já deixa bastante evidenciada a relação do Xoloitzcuintles com o narcotráfico, mas a relação com o mundo das drogas não para por aí e vem a ser ainda mais ressaltada pela exaltação da sua torcida a ligação do clube com o cartel por meio do uso de símbolos alusivos a entorpecentes em bandeiras e, até mesmo, pinturas corporais.

Ostentando ligações desse gênero e tratando de exaltá-las, o ano de 2012 foi o mais marcante da história do Xolo, apelido do clube. De maneira contundente, o Tijuana, que já teve o volante Arévalo Ríos, ex-Botafogo, compondo seu plantel, se impôs e com uma goleada por 4 a 1 sobre o Toluca conquistou o título do Apertura mexicano, o que o creditou uma vaga na edição da Libertadores do ano atual.

A participação de um clube bem-relacionado com o narcotráfico na tão grandiosa competição interclubes sul-americana nos remete ao ano de 1989. Na época, o Nacional de Medelín ostentava uma enorme ligação com a poderosa organização criminosa da cidade, comandado pelo famoso Pablo Escobar, e um plantel recheado de jogadores colombianos de renome, como o goleiro Higuita e o zagueiro Andrés Escobar, que viria a ser assassinado depois de marcar um gol contra na Copa do Mundo de 1994.

As participações do clube de Escobar na Libertadores seriam bastante marcantes. No ano de 89, uma campanha marcada por supostas tentativas de suborno a arbitragem por meio da força bélica e influente do cartel o que culminou no título da competição. No ano seguinte, o Nacional viria a ser denunciado por suborno pelo árbitro Juan Cardelino, que declarou ter recebido uma proposta subordinativa antes da partida semifinal contra o Vasco, e, assim como todas as equipes colombianas, não pôde disputar o torneio sul-americano até o ano de 2012.

O Tijuana atual dentro de campo
Relações com a organização de narcotraficantes à parte, a verdade é que o Xolo conta com uma equipe bastante aplicada e disciplinada. Dotada de bastante técnica, o time treinado por Antonio Mohamed merece ser olhado com atenção, até porque são boas as chances de passar da fase de grupos e, quem sabe, surpreender o atual campeão Corinthians.

Tomando como esquema-base o 4-2-3-1, que varia bastante para um 4-3-3, o Tijuana tem como uma de suas principais virtudes a velocidade nos avanços pelos flancos, sem contar a qualidade na distribuição de jogo, função reservada a Joe Corona, meia que conta com convocações para a seleção norte-americana, e, muitas vezes, ao experiente Fernando Arce, grande ídolo da torcida.

Caso decida manter foco na Libertadores, o Xolo tem excelentes condições para passar de fase e almejar surpreender. E é claro que a expectativa que fica é que a surpresa seja apenas em aspectos dentro de campo, sem necessitar a apelar para a força da organização de narcotraficantes e repetir os infelizes atos do Nacional de Medellín na virada da década de 80 para a de 90.


Felipe Ferreira tem 15 anos e é estudante. Escreve para vários blogs como Bundesliga Brasil e Premier League BR, além de ser dono do Schalke BR, site especializado em cobertura da equipe alemã.

"É difícil falar o que eu mais gosto do futebol. Não é uma só coisa, são vários fatores. A forma como a qual a torcida vibra nas arquibancadas, a dinâmica do jogo, toda aquela história de que o jogador pode ir de herói a vilão em questão de minutos. Sem contar a enorme emoção e todas as surpresas que o saudoso esporte bretão sempre nos reserva."

No twitter, @felipepf13.

Nenhum comentário: