terça-feira, 14 de junho de 2011

O Tsar dos Balaídos

Foto: Moi celeste
Um dos jogadores soviéticos mais talentosos dos anos 90, Aleksandr Mostovoi desfilou por gramados espanhois durante a maior parte de sua carreira no Celta de Vigo, coincidentemente, em parceria com Valery Karpin. De personalidade forte, o meia somou algumas confusões como profissional

Ser conhecido como O Tsar foi uma das maiores honrarias na carreira de Mostovoi. Ele não foi apenas Aleksandr, um boleiro que se destacou em seu país. Foi um monarca do esporte, um expoente do fino talento soviético que se dissolveu ao fim dos anos 80. A sua fúria era um complemento ao poder de decisão que só os grandes tinham em mãos.

Começou sua carreira no Spartak Moscou, em 1986. Naquele tempo, o futebol soviético atravessava seus dias finais e apresentava poucos nomes para o resto da Europa. Era um estilo duro, de força, muito passe e aquela burocracia característica. O jogo coletivo talvez não permitisse o estrelato de um ou outro. Até nisso a URSS era comunista.

Destoando do restante dos companheiros, chamou a atenção dos alemães do Leverkusen e os lusos do Benfica, por suas cinco temporadas fantásticas na equipe russa. No Spartak, apresentou seu arsenal: bom passe, visão de jogo e muita força. Parecia ter um imã nos pés. Atraía a bola, escrava de seu trato, de suas pancadas.

Tricampeão nacional pelo Spartak, deixou Moscou em 1992 com um extenso histórico de briguento e de pavio curto, escolhendo Lisboa como seu destino. Sem muito brilho e com a forte concorrência de Rui Costa, Paulo Sousa e João Pinto, o russo partiu para o Caen logo na época seguinte. Lá, um elenco fraco e a 16ª posição na Ligue 1 fizeram com que Aleksandr se desmotivasse e optasse por mais uma transferência.

Saindo da bolha vermelha
Assinou em 1994-95 com o Strasbourg, que o acolheu. Montando um elenco considerado aceitável, incluindo atletas como Valeriën Ismael, Frank Leboeuf, Olivier Dacourt, Remi Garde e Franck Sauzée, a simpática equipe francesa alcançou a 10ª posição na tabela. Foi tão aclamado no Strasbourg, que em 2006 os torcedores o elegeram como Jogador do Século no clube.

No Celta de Vigo que o russo teve seu melhor momento. Ídolo instantâneo, chegou aos celestes da Galícia em 1996-97. Na temporada seguinte passou a ter a companhia de seu compatriota Valery Karpin na meia-cancha da equipe. Conhecido como "Tsar dos Balaídos", viu seu ano de estreia não correr como planejado, terminando o campeonato em 16º. Os ventos mudaram no ano seguinte, quando já ao lado de Karpin em 1997-98, promoveu uma mudança no patamar do Celta: a 7ª colocação foi ensaiando a entrada do clube no grupo dos melhores da Espanha ao fim da década de 1990.

Mostovoi permaneceu no Balaídos até 2004, somando 235 jogos e 55 gols, consolidado como um dos maiores ídolos da história do Celta, complementado por Karpin. Os anos de batalha se encerraram em 2004-05, quando já com idade avançada e problemas com contusões, Aleksandr foi-se embora para o Alavés, onde encerraria a sua carreira. Fez apenas uma partida e um gol.

O lado encrenqueiro
Convocado para a Copa de 1994 e as Euros de 1996 e 2004 pela Rússia, Mostovoi também era referência no selecionado nacional. Ainda sim, seu lado problemático iria gerar grande confusão no grupo russo. Após a primeira partida no torneio de 2004, na fase de grupos contra a Espanha (derrota por 1-0), o meia criticou duramente o treinador Georgi Yartsev, alegando que "ele não era bom técnico e que não entendia nada sobre futebol".

A medida tomada por Yartsev foi retirar Aleksandr do grupo, já no dia seguinte, num caso semelhante ao de Roy Keane em 2002, onde o volante irlandês se desentendeu com Mick McCarthy e pediu dispensa do Mundial na Coreia do Sul e Japão.

Felipe Portes é estudante de jornalismo, tem 23 anos e é redator na Trivela, além de ser o dono e criador da Total Football. Work-a-holic, come, bebe e respira futebol.

"O futebol na minha vida é questão de fantasia, de imaginário. Fosse uma ciência exata, seria apenas praticado por robôs. Nunca fui bom em cálculos e fórmulas, o lado humano me fascina muito mais do que o favoritismo e as vitórias consideradas certas. Surpresas são mais saborosas do que hegemonias.

No twitter, @portesovic.

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