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Foto: 7m Sport |
Se você pudesse eleger 10 atletas emblemáticos da década de 90, certamente Edgar Davids estaria nessa lista. O futebol se reinventava e via novas hegemonias, novos talentos e uma geração holandesa impressionante. Entre eles estava um meia marcador baixinho e grudento. Que não dava espaço para os seus alvos, um cachorro raivoso.
Nascido em Paramaribo, no Suriname e levado para a Holanda quando criança, Edgar viveu em Amsterdã até descobrir aptidão para o esporte. Perto dos 11 anos, o menino tentou algumas vezes passar por testes no Ajax, mas foi rejeitado. O pai ficava bravo a cada vez que o seu filho era recusado, mais por saber que um talento estava sendo negado. Para todo pai, o seu herdeiro é o mais talentoso do mundo. A persistência do pequeno Edgar valeu e no ano seguinte, em 1985, conseguiu ser chamado.
Estreou em 1991, com 18 anos de idade e com outros colegas brilhantes iniciou o segundo período dourado da história dos Godenzonen. Em duas passagens pelo clube de Amsterdã (1991 a 1996 e 2006 a 2008) venceu três vezes a Eredivisie (94, 95 e 96), duas Copas da Holanda (93 e 2007), uma Copa UEFA (92), uma Liga dos Campeões (95) e um Mundial Interclubes (95).
Habilidoso, tinha boa saída de bola além da marcação implacável. Conseguiu se destacar num time simplesmente fabuloso. Do gol até o ataque aquele Ajax era incrível: Van der Sar, Reiziger, Blind, Rijkaard, Frank de Boer, Seedorf, Davids, Ronald de Boer, Finidi, Litmanen e Overmars. Na final da LC de 1995 diante do Milan, Kluivert ainda entrou na vaga de Litmanen para dar o título aos holandeses, com um gol aos 40 do segundo tempo.
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Foto: Sports Illustrated |
Transição, um pênalti perdido e a despedida
O ano seguinte não reservou muitas alegrias a Davids. Ele já era renomado, presença constante na seleção da Holanda, viu o Ajax alcançar novamente a decisão da Liga dos Campeões. Contra outro italiano, não teve a mesma sorte. A Juventus bateu de frente e conseguiu levar até as penalidades, onde Davids desperdiçou sua cobrança. Jugovic converteu e fez a festa bianconera no Olimpico de Roma. Era o fim de um ciclo. Edgar estava sendo negociado com o Milan para jogar na Serie A, ainda recheada de astros do mundo todo.
O ano seguinte não reservou muitas alegrias a Davids. Ele já era renomado, presença constante na seleção da Holanda, viu o Ajax alcançar novamente a decisão da Liga dos Campeões. Contra outro italiano, não teve a mesma sorte. A Juventus bateu de frente e conseguiu levar até as penalidades, onde Davids desperdiçou sua cobrança. Jugovic converteu e fez a festa bianconera no Olimpico de Roma. Era o fim de um ciclo. Edgar estava sendo negociado com o Milan para jogar na Serie A, ainda recheada de astros do mundo todo.
O casamento com uma velha senhora
Sem espaço no plantel milanista, passou uma temporada apenas no banco, entrando periodicamente em jogos pouco importantes. A Juventus teve a sacada da década e contratou os serviços do holandês, num casamento que deu mais do que certo. Em seis anos, levantou três vezes a Serie A (98, 2002 e 2003). Era o motorzinho da formação de Marcello Lippi apesar do fato de contracenar com feras como Zidane, Conte e Deschamps no meio campo bianconero. Nesse intervalo de seis anos, disputou de forma brilhante a Copa de 1998, onde chegou com a Holanda até as semifinais, caindo para o Brasil nos pênaltis e perdendo a decisão do terceiro lugar para a Croácia de Suker, Prosinecki e Boban.
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Davids contra a Iugoslávia na Euro 2000 (Foto: Telegraaf ) |
Davids, o esquiador
Um ano após o Mundial na França, precisou pedir uma licença especial para a FIFA, pois estava em um estágio avançado de glaucoma que poderia levar à cegueira. A partir de 1999 começou a jogar usando óculos reforçados, de um material que não quebrasse em divididas. A preocupação de colegas com a sua integridade foi acompanhada de piadas como a de Jaap Stam durante a preparação Euro 2000: "Edgar, estamos jogando futebol, tire da cara esses óculos de esquiador". O meia ficou possesso com a brincadeira do zagueirão.
Um Barcelona laranja, muito laranja
Davids teve de lidar com mais uma grande frustração em penalidades. Diante do Milan na LC de 2002-03, viu o título escapar e ir parar nas mãos dos rossoneri. Mais uma vez encarou grandes mudanças e foi para o Barcelona em agosto de 2003, a convite de Frank Rijkaard. Se juntou a outros seis holandeses (incluindo Rijkaard, treinador do time) num time que foi a base do elenco campeão europeu em 2006. Davids até foi bem no Camp Nou com o mesmo papel dos tempos de Juventus. Entretanto, saiu em desprestígio com a conquista do Valencia em La Liga. Se renovando aos poucos, o Barça começou a dar chance aos seus meninos e o resultado, bem, vocês já sabem.
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Foto: Daily Mail |
Flop na Inter e redenção em Londres
Poucos se lembram, mas em 2004 o meia desembarcou na Inter. Aos 31 anos, não tinha mais a mesma pegada do passado. Não demorou a fracassar pela segunda vez em Milão. Ganhou uma Copa da Itália como reserva. Liberado de graça para o Tottenham, em 2005, se reinventou e passou a ter um papel de armador.
Poucos se lembram, mas em 2004 o meia desembarcou na Inter. Aos 31 anos, não tinha mais a mesma pegada do passado. Não demorou a fracassar pela segunda vez em Milão. Ganhou uma Copa da Itália como reserva. Liberado de graça para o Tottenham, em 2005, se reinventou e passou a ter um papel de armador.
Duas temporadas e duas vezes passando muito perto da zona de classificação para a LC. Ídolo da torcida, foi determinante em duas campanhas dos Spurs que culminaram na 5ª posição da Premier League. Recebeu um convite do Ajax em janeiro 2007 e a partir daí viveu no ostracismo, jogando apenas com o nome.
Fim da linha no Ajax e a volta como master
De volta ao lugar onde ganhou tudo na carreira, Edgar viu o PSV vencer a Eredivisie de forma dramática, no saldo de gols. Os Boeren conseguiram saldo positivo de 50 contra 49 do Ajax. O consolo foi levantar a taça da Copa da Holanda, o que não significou muito e foi o prelúdio de tempos melancólicos para Davids. Em julho de 2007, quebrou a perna e nunca mais conseguiu retomar o bom futebol. Também pudera, aos 34 anos toda lesão ganha maior gravidade. Mas nem isso fez com que ele desistisse de jogar. Acenou com a aposentadoria em 2008, mas retornou ao esporte em 2010 pelo Crystal Palace. Entrou em campo seis vezes e parou. Não, mentira, voltou em 2012 pelo Barnet, na quarta divisão inglesa. Pronto, agora sim ele está aposentado. Ou não? Aos 40 anos, é difícil cravar que ele não invente de arrumar outro time.
Por que é um Desafortunado?
Davids não tinha muita sorte com disputas de pênalti. Perdeu ao todo duas finais de LC, uma semifinal de Copa do Mundo, duas Eurocopas (uma vez nas oitavas em 1996 e outra nas semifinais de 2000). Poderia ter sido campeão holandês em 2007, mas a conquista escapou por um gol no saldo. Por ter flopado nos dois times de Milão, leva o selo de Desafortunado. Mas olha só, agora é o melhor jogador da editoria!
Davids não tinha muita sorte com disputas de pênalti. Perdeu ao todo duas finais de LC, uma semifinal de Copa do Mundo, duas Eurocopas (uma vez nas oitavas em 1996 e outra nas semifinais de 2000). Poderia ter sido campeão holandês em 2007, mas a conquista escapou por um gol no saldo. Por ter flopado nos dois times de Milão, leva o selo de Desafortunado. Mas olha só, agora é o melhor jogador da editoria!
"O futebol na minha vida é questão de fantasia, de imaginário. Fosse uma ciência exata, seria apenas praticado por robôs. Nunca fui bom em cálculos e fórmulas, o lado humano me fascina muito mais do que o favoritismo e as vitórias consideradas certas. Surpresas são mais saborosas do que hegemonias."
No twitter, @portesovic.
Um comentário:
Esse desgraçado nem pra errar penâlti na final do Mundial de 95.
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