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Foto: Super Vasco |
Dener chamou a atenção do público dando show e tinha um futuro promissor pela frente; brilhando por Portuguesa, Grêmio e Vasco, perdeu a vida em 1994 num acidente de carro
Muito se fala em promessas que não foram cumpridas por jogadores talentosos no Brasil. Alguns despontam como novos Neymares, Pelés, Robinhos, Kakás e Ronaldos. Nenhum deles foi Dener. E Dener não foi parecido com nenhum outro.
A trajetória do rapaz da Vila Ede começou nas categorias de base da Lusa, no fim da década de 1980. Pelas mãos de Antonio Lopes, então treinador da Portuguesa, o menino ganhou uma chance entre os profissionais. Jogando apenas algumas partidas e alternando entre participações pelos juniores, Dener não demorou a se destacar com a camisa rubro-verde.
Ergueu então a taça da Copa São Paulo de Juniores em 1991, contra o Grêmio, sendo o melhor jogador do torneio e mostrando ao Brasil o que era capaz de fazer. Durante o Paulistão de 91, contra a Internacional de Limeira, o jovem saiu carregando a bola com uma velocidade incrível. Levou três adversários e quando encarou o goleiro, deu um toque ousado por cima para marcar. As arrancadas com a bola grudada aos pés eram marca registrada do menino que encantou aos que esperavam algo diferente em anos completamente modorrentos no futebol brasileiro.
A fisionomia de moleque, o bigodinho e o sorriso fácil faziam com que o seu carisma tocasse até os rivais, que constantemente ficavam no chão ou comendo a grama que ele deixava para trás. Exímio finalizador e mais talentoso ainda com as fintas que aplicava sem a mínima piedade, Dener foi convocado para a Seleção brasileira quando tinha apenas 20 anos, em 1991, fazendo onze aparições.
Outra molecagem de Dener com a camisa da Portuguesa aconteceu contra o Santos, em 1992. Recebendo um passe na lateral, o camisa 10 meteu uma caneta em Índio, abriu as asas para evitar o desarme do segundo beque e driblou o goleiro, que impotente, caiu após o corte para a esquerda. Restou a Dener apenas completar, coisa que ele fez com um carrinho e quase esbarrando na trave. Golaço que quem viu não esquece jamais.
Emprestado ao Grêmio por alguns meses em 1993, foi campeão gaúcho e marcou quatro gols em sua passagem pelo Olímpico. Na época, a Lusa não queria se desfazer do craque e apenas aceitava negociar pela forma de empréstimo. Assim, o meia também jogaria no Vasco em 1994, contribuindo para o título da Taça Guanabara.
Em 19 de abril de 1994, antes mesmo do fim do campeonato carioca, Dener sofreu um acidente a bordo de seu Mitsubishi Eclipse. Dormindo no banco do passageiro, o craque recém chegado ao Vasco nem chegou a ver o momento da colisão do carro com uma árvore na Lagoa Rodrigo de Freitas. Falecendo na hora, não pôde ver nem o seu time campeão estadual.
Existem poucas histórias a serem contadas sobre o jogador e a pessoa Dener. Foi-se o homem, ficou o mito. Ficaram as imagens das corridas, dos dribles e dos gols, da empolgação do menino que teria o mundo todo pela frente, não fosse uma jogada errada do destino. Com a vida acertada para ir jogar no Stuttgart, teve seu futuro bruscamente interrompido por uma fatalidade.
O legado para outros craques como Robinho, assumidamente fã de Dener, é um exemplo de que ele sempre será lembrado como artista da bola, um dos últimos moicanos do chamado futebol arte, que ainda respira por aparelhos em algum campo perdido, Brasil afora. E que os vários meninos que ganharam o nome do ex-camisa 10 da Portuguesa não deixam essa lembrança se perder. Pois igual a ele não havia ninguém, era apenas Dener.
Felipe Portes é estudante de jornalismo, tem 22 anos e é redator no Trivela, além de ser o dono e criador da Total Football. Work-a-holic, come, bebe e respira futebol.
"O futebol na minha vida é questão de fantasia, de imaginário. Fosse uma ciência exata, seria apenas praticado por robôs. Nunca fui bom em cálculos e fórmulas, o lado humano me fascina muito mais do que o favoritismo e as vitórias consideradas certas. Surpresas são mais saborosas do que hegemonias."
No twitter, @portesovic.
Um comentário:
Foi para mim o maior camisa 10 que eu vi jogar, e olha que vi grandes craques como Alex(palmeiras,cruzeiro,coritiba), Ronaldinho gaúcho e tantos outros da década de 90. Mas para mim o Denner foi especial, tanto que Deus o guardou lá no céu. Obrigado Dener.
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