quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Arena Juventus?

Foto: UOL
Thomas Visani, @thosqueira

Suposta obra da Arena Juventus na Rua Javari causa indignação em torcedores juventinos; até onde vale a pena substituir a tradição pela modernidade?

Muita gente tem me perguntado o que acho da tal proposta da Arena Juventus. Basicamente, e dentro do possível, meu pensamento resumido é que a história toda é muito estranha. Surgiu na sexta-feira passada, de repente, vinda por um dirigente em um anúncio no site oficial do clube. Uma arena (aliás, é uma enorme viadagem esse negócio de arena. Futebol se joga em estádio) multiuso de R$ 200 milhões (!!!!!!), com mais do triplo da capacidade de torcedores (de 6.000 para 20.000), camarote para cinco mil zé ruelas, estacionamento para três mil carros, restaurante, espaço para shows e não sei mais o que e que seria construída exatamente na mesma área do atual estádio na Rua Javari.

Quem conhece aquele local sabe que isto é impossível. Não há recuo suficiente em nenhum dos lados para tal obra. Seria necessário uma grande desapropriação das casas e da creche ao lado. Isso, sinceramente, é o de menos. Espaço se cria (a um custo, é verdade). Mas há a necessidade?

Vejamos: como bem levantado pelo amigo Gui Minchillo Conde, a média de público na Javari em 2012 foi de pouco mais de 1.000 pessoas. E é assim há anos, os mesmos 1.000 de sempre. Morre um, outro aparece. Claro, há os turistas (e por mim são bem vindos), que frequentam a Javari por ser um local diferente para se ver futebol. A torcida está pertíssimo dos jogadores, não tem frescuras, o placar é manual e se lê Juventus x Visitante (algo que mostra não importar quem está do outro lado, será um mero visitante na nossa casa) e tem um dos melhores doces da cidade como tradição pública, o cannoli. 

A visão do gramado é excelente e muita história do ludopédio brasileiro aconteceu naquele espaço retangular. Aumentar a capacidade do estádio não trará novos torcedores, pelo menos não torcedores de verdade. E, com todas essas reformas, capaz de perder os simpatizantes, que vão à Javari justamente por ser diferente, um lugar que o jogador vem conversar contigo na grade e tomar cerveja depois do jogo no bar ao lado.

Não digo que a Javari é perfeita. Longe disso, inclusive. São necessários diversos investimentos para melhorar a estrutura local. Uma expansão também seria bem vinda, claro, embora nada necessária. A isso tudo, sou favorável. Mas em algo que faça sentido e seja bem planejado e fiscalizado. O time precisa de instalações melhores, o gramado precisa ser melhor cuidado, não temos refletores para jogos noturnos. A diretoria não gasta algumas dezenas de milhares de reais para colocar refletores mas acha que é viável uma obra de 200 milhões para reconstrução. Só pode ser brincadeira de mau gosto.

Pior ainda: em 2012 fizemos uma campanha melhor que o esperado. Subimos de divisão no Campeonato Paulista (finalmente!), porém precisamos de patrocínios de última hora para poder pagar as viagens extras da fase final. Na primeira fase da Copa Paulista liderávamos até restarem cinco rodadas. A diretoria pede para o time tirar o pé pois não poderia pagar mais três meses de salário (resultado de classificar à próxima fase) e, com isso, ficamos de fora da disputa de um título que tínhamos totais condições de ganhar.

O departamento de futebol sobrevive de patrocínios esporádicos, não existe uma parceria séria e que nos dê esperanças de investimentos e retorno em médio prazo. Um time que revelou diversos jogadores em um passado recente e que sempre os perde por questões de grana. Exemplos de bons jogadores que passaram pelo Juventus recentemente? Luisão, Alex (zagueiro do PSG), Hernanes, Lucas, Thiago Motta, Lima (artilheiro do Benfica), Elias. Este último, alías, depois de uma excelente campanha na Copa Paulista de 2007 (nosso último título) pediu um aumento salarial de DOIS MIL reais que lhe foi negado pela diretoria e foi embora para a Ponte Preta. Logo depois Corinthians, seleção e mundo (valeu Raucci!).

Em 2009, a insatisfação com a diretoria chegou a tal ponto (fomos rebaixados da A2 para A3 pela primeira vez na história do clube) que nosso antigo presidente contratou leões de chácara para ficarem no meio da torcida e inibirem qualquer tipo de protesto contra os comandantes. Dá para levar a sério uma equipe diretiva como essa? Estamos em outra gestão, mas o amadorismo é bem semelhante.

Antes de pensar em gastar R$ 200 milhões em uma ~arena~ que terá mais camarotes do que o público de cinco jogos somados na base atual, deveria investir no time, contratando melhores jogadores, dando salários equiparados aos dos times do mesmo campeonato, devolver o Juventus à primeira divisão paulista e a campeonatos nacionais. Não digo nem Série B porque sei que isto é quase utópico, mas por que não pensar assim? Depois de consolidado algo nessa linha, aí sim pensar em estruturas que não fazem sentido.

Se essa ~arena~ vier do jeito desenhado, matará o futebol. Matará o time e uma torcida apaixonada. E não somente os juventinos perderão.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns ao autor pelo texto. Muito bom!