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Foto: Plano tático |
Para alguns, a carreira de futebolista pode ser cheia de sucesso, de preposições ou de desculpas pelo insucesso. Para outros, o ostracismo parece cruel se o passado era folclórico, gerando discussões sobre a sua verdadeira capacidade dentro de campo.
Em 1996, a Portuguesa Santista revelou um certo Rodrigo. Sem muita tradição como celeiro de craques, a Briosa se deu bem com o menino na meia cancha. Sabia chutar muito bem de canhota e se movimentava como poucos até o ataque. "Criamos um gênio", diriam os dirigentes. O futuro se encarregaria de contar essa história de ascensão, fama e frustração.
Lançado por empréstimo ao Guarani, em 1997, o rapaz queria crescer no Brinco de Ouro da Princesa. Em Campinas, ganhou projeção no estado de São Paulo. Era pouco para quem queria ser astro e brilhar com a camisa 10 de alguma equipe grande no país. Emprestado para o Gama em 1998, venceu a Série B e o Candangão com o alviverde, ao lado de outros esquecidos da bola: Nen e Romualdo, AQUELE.
Uma estrela solitária
Contratado pelo Botafogo em 1999, deu um passo importante. Em General Severiano ganhou muita experiência, que serviu como base para os anos que viriam. Não conseguiu levantar nenhuma taça (foi vice da Copa do Brasil, em derrota para o Juventude) e ainda sofreu com a constante troca de treinadores. Pelo banco do Fogão, apenas naquele ano passaram Waldir Espinosa, Carlos Alberto Torres, Paulo Autuori e Paulo Campos. Nem muito empenho faria o jovem ser o preferido para entrar jogando, ainda enfrentando forte concorrência no setor.
Pense você num meio campo disputado por Gallo, Válber, Leomar, Caio (ex-Grêmio), Sérgio Manoel e Marcelinho Paulista, além do nosso Desafortunado. Rodrigo penou no banco e teve de esperar a chegada de 2000 para se estabelecer no Glorioso. As chegadas de Souza (atualmente no Cruzeiro), Tinga e Djair não intimidaram o menino de Santos.
O Botafogo acabou o Módulo azul da Copa João Havelange em 16º com 32 pontos, quatro atrás do Bahia, último classificado para a segunda fase. Mesmo com a campanha mediana, Rodrigo se destacou. Marcando até gol em clássico no Vasco de Romário, em novembro. Naquela oportunidade, debaixo de forte sol no Maracanã, o Baixinho passou mal na primeira etapa e precisou sair. Até o apito final, o Fogão massacrou o cruzmaltino e venceu por 2-1, com uma patada do nosso Desafortunado na ponta esquerda da área de Hélton.
Cheio de moral, ganhou pompas de matador em 2001. Novamente contrastando com a atuação do próprio time, Rodrigo foi demarcando território como um dos principais nomes do Glorioso no Brasileirão. Nem mesmo a péssima campanha (23o, à frente do Flamengo com os mesmos 29 pontos) apagou o grande campeonato do meia. Contra o Bahia, na terceira rodada, só não fez chover. Dois golaços e uma assistência para Taílson selaram uma noite iluminada do botafoguense.
Aventura e lágrimas na terra dos Beatles
Onze gols no torneio não bastaram para salvar o Botafogo de um ano quase trágico. Decepcionado com os rumos que sua equipe tomara, Rodrigo deu a grande guinada em sua carreira: foi contratado pelo Everton, em julho de 2002, por recomendação do treinador David Moyes. 1 milhão de libras foi o valor da negociação.
O sonho europeu estava vivo para o santista, que desembarcou em Liverpool querendo convencer o professor Moyes de que era um bom valor. Chegando aos Toffees juntamente com Richard Wright, Joseph Yobo e Li Tie, o brasileiro era visto pelo manager inglês como uma pedra a ser lapidada.
Dois meses de Inglaterra e tudo desmoronou, com a fatídica lesão nos ligamentos cruzados do joelho. Um ano no estaleiro e a amarga passagem de retorno para o Brasil, onde seria emprestado ao Atlético Mineiro. Um bom 2003 no Galo deu esperanças que a recuperação tivesse sido completa. Cobiçado pelo Corinthians para 2004, Rodrigo virou Rodrigo Beckham. Ou Rodrigol, como pediu que fosse a inscrição na sua camisa do Everton.
Flop no Timão, Beckham passou também por Juventude, Atlético Paranaense e Vasco antes de assinar com o Boavista, em 2006. Responsável direto pelo acesso do Verdão de Saquarema à elite carioca, voltou a estar nas vitrines nacionais e acertou com o Paraná para a disputa do Brasileirão de 2007. Impedido por novas contusões, retornou ao Boavista em 2008, já com 32 anos nas costas.
Ainda havia tempo para mais uma conquista. Pelo Fortaleza, foi campeão cearense em 2009 mostrando que não esqueceu como marcar gols. Em 2010, seu ano derradeiro como profissional, levou o Red Bull Brasil ao acesso para a Série A2 do Paulistão. Aposentou-se do esporte como uma promessa não cumprida em virtude da grave lesão que sofreu nos seus tempos de Premier League.
E aí a história dá lugar à suposição. Diziam que ele poderia ter chegado na Seleção, que seria titular no Everton ou que seria melhor do que o próprio Beckham, apesar de não ter a característica de bater faltas. Rodrigo foi separado de David por apenas um joelho. Ou talvez um pouco mais do que isso...
Felipe Portes é estudante de jornalismo, tem 22 anos e é redator no Trivela, além de ser o dono e criador da Total Football. Work-a-holic, come, bebe e respira futebol.
"O futebol na minha vida é questão de fantasia, de imaginário. Fosse uma ciência exata, seria apenas praticado por robôs. Nunca fui bom em cálculos e fórmulas, o lado humano me fascina muito mais do que o favoritismo e as vitórias consideradas certas. Surpresas são mais saborosas do que hegemonias."
No twitter, @portesovic.
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