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Foto: Abril |
Once Caldas derruba Boca Juniors na final da Libertadores de 2004 e se torna a maior zebra na história da competição sul-americana; colombianos surpreenderam no mata-mata e ergueram o caneco
Dentre os nove grupos da Copa Toyota Libertadores de 2004, o
chaveamento número 2 não era o que chamava mais atenção. Na companhia do
argentino Vélez Sarsfield, estavam os venezuelanos de Unión Maracaibo, os
uruguaios do Fênix e um tal de Once Caldas. Embora campeão colombiano, um time
totalmente inexperiente em competições internacionais. Como objetivo, passar da
primeira fase do torneio pela primeira vez, em sua terceira participação.
Valentierra, Henao (aquele), Cataño, Varegas, Alcazar...
Nomes então desconhecidos de um coadjuvante na luta pela glória
continental e que em pouco menos de cinco meses, virariam os heróis de uma dos
mais surpreendentes títulos que a América já viu.
Vélez
decepciona e o Once Caldas toma conta do grupo
18 de fevereiro de 2004. Jogando em casa, no Estádio
Palogrande, que não recebe grande público, o Once Caldas estreia na
Libertadores de 2004. E começa bem: aos 15 minutos, em cobrança de pênalti,
Valentierra abre o placar para os colombianos, contra o Fênix. No
segundo tempo, também de pênalti, Valentierra voltou a marcar. Díaz, de fora da
área, decretou a vitória colombiana (3-0) na primeira rodada.
Confiantes para o duelo seguinte, na Venezuela, “los blancos” empatavam com o Unión Maracaibo até os 44 do segundo tempo, quando Sergio Galvan disparou em velocidade, aplicou um senhor chapéu no goleiro adversário e, com o gol livre, garantiu a segunda vitória (2-1) dos rapazes de Manizales na competição.
Confiantes para o duelo seguinte, na Venezuela, “los blancos” empatavam com o Unión Maracaibo até os 44 do segundo tempo, quando Sergio Galvan disparou em velocidade, aplicou um senhor chapéu no goleiro adversário e, com o gol livre, garantiu a segunda vitória (2-1) dos rapazes de Manizales na competição.
Os próximos dois embates seriam contra o outrora favorito do
grupo, Vélez Sarsfield. Digo outrora porque os argentinos haviam feito apenas
um ponto nas duas partidas anteriores e precisavam vencer para não ficar com a
vida ainda mais complicada na competição. O primeiro dos dois cotejos foi na
Argentina, no estádio José Amalfitani, com vitória dos donos da casa por 2-0.
Em Manizales, o Once Caldas devolveu o placar com dois gols de Galvan.
Na penúltima rodada, a virada, em casa, para cima do Unión
Maracaibo (2-1), garantiu a classificação e o primeiro lugar do grupo para o
Once Caldas, que encerrou a primeira fase com um empate (2-2) contra o Fênix,
no Uruguai.
O temido mata-mata
O Once Caldas tinha, nas oitavas-de-final, um adversário que
vinha com moral, após vencer o playoff (naquele ano, os quatro piores segundo
colocados – sexto contra nono, sétimo contra oitavo – disputavam, em jogo
único, uma vaga nas oitavas) por 6-1, contra o Unión Maracaibo: era o Barcelona
de Guayaquil, que, seis anos antes, havia sido vice-campeão da Libertadores,
perdendo para o Vasco, na final.
Foi um confronto tenso. Na primeira perna, realizada no
Equador, só deu Barcelona. Mostrando ser um time defensivo, talvez “retranqueiro”,
o Once Caldas viu os donos da casa pressionarem, tentando surpreender em raros
contra-ataques. Gol, nenhum. Expulsões, uma para cada lado. Tudo seria decidido
na volta, onde um empate causaria pênaltis (à época, ainda não
havia o critério do gol fora de casa) e, quem vencesse, seguiria na competição.
Em Manizales, os colombianos começaram melhor, foram para cima, mas o gol não saía. O marcador só foi aberto aos cinco minutos do primeiro tempo. Para o Barcelona. Em uma jogada que começou nos pés de Walter Ayoví, José Gavica saiu na cara do gol após um lançamento de letra de Teixeira, e tocou para o fundo do gol de Henao. O sofrimento acabou aos 38 minutos do segundo tempo, quando Diaz lançou no primeiro pau para Jorge Agudelo, que, de letra, empatou para os colombianos e levou a disputa para os pênaltis.
Em Manizales, os colombianos começaram melhor, foram para cima, mas o gol não saía. O marcador só foi aberto aos cinco minutos do primeiro tempo. Para o Barcelona. Em uma jogada que começou nos pés de Walter Ayoví, José Gavica saiu na cara do gol após um lançamento de letra de Teixeira, e tocou para o fundo do gol de Henao. O sofrimento acabou aos 38 minutos do segundo tempo, quando Diaz lançou no primeiro pau para Jorge Agudelo, que, de letra, empatou para os colombianos e levou a disputa para os pênaltis.
A disputa de pênaltis começou com Caicedo, para o Barcelona,
e Valentierra, para o Once Caldas, convertendo suas cobranças. Walter Ayoví
bateu o segundo pênalti dos equatorianos e cobrou na trave. A partir daí, não
houveram mais erros até o fim da terceira série, deixando o placar em 3-2 para
os donos da casa. Chatruc bateu a quarta penalidade do Barcelona e Henao fez a
defesa. Agudelo, que havia feito o gol de empate, bateu no canto e colocou “los
blancos” nas quartas de final. O adversário seria o então atual vice-campeão da
América: o Santos.
Para quem nunca havia passado da primeira fase, estar entre
os oito melhores da América já era muito. Mas o Once Caldas queria mais: na
Vila Belmiro, entrou de igual para igual com os donos da casa, mostrando que
também poderia jogar bem de forma mais ofensiva. Contudo, aos 38
minutos da etapa final, Basílio recebeu um lançamento na cara do gol e abriu o
placar. Quando o resultado já parecia definido, aos 42 minutos, Henao lançou
com a mão e a bola passou a perambular pela zaga santista. O sistema defensivo
alvinegro saiu mal e Valentierra chutou de fora da área para empatar.
Dentro do alçapão em Manizales foi tudo equilibrado, com chances para os dois
lados. O Santos de Diego e Robinho foi ligeiramente melhor, mas, aos 26 minutos
do segundo tempo, Arnulfo Valentierra, sempre ele, soltou uma bomba em uma
cobrança de falta e acertou o ângulo santista: o gol da classificação. O Once
Caldas fazia história e chegava às semifinais. No caminho, outro brasileiro, outro paulista, outro
bicampeão: o São Paulo.
O Morumbi estava lotado para ver o Tricolor
paulista encaminhar sua volta a uma final de Libertadores, dez anos após a
derrota para o Vélez. Se o São Paulo pretendia vencer com tranquilidade e matar
o confronto, o Once Caldas se admitiu como azarão e passou os 90 minutos se
defendendo. O escrete brasileiro chutou, chutou, chutou. O tempo todo tentando um
gol que lhe desse o mínimo de tranquilidade para a volta. Quando a trave
não salvava o Once Caldas e o tricolor acertava a meta adversária, era a vez de Henao
brilhar e evitar a vitória são-paulina. O Once Caldas teve uma chance de gol,
com Díaz, aos 46 minutos da etapa final, e nada mais. Mais uma vez, a decisão
ficou para o Manizales, onde a missão da torcida colombiana seria a de
ENDURECER o jogo no Estádio PALOGRANDE. (Desculpem, esperei o post inteiro para
fazer esse trocadilho).
Pois bem. Aos 27 minutos, após algumas chances para os dois
lados, a bola pipocou na área e acabou sobrando nos pés de Helry Alcazar. Nas
palavras de Galvão Bueno: “OLHA O DRAMA DO SÃO PAAAAAAULOOO... goooool”. O drama
durou pouco. Cinco minutos depois, (Zi)Danilo dominou e chutou forte para empatar. Na segunda etapa, o duelo piorou. Foram raras as chances de gol para os
dois lados e tudo levava a crer que o Once Caldas teria que passar por mais uma
disputa de penalidades.
Durante os dez minutos finais, o Tricolor se lançou ao ataque, tentando garantir a classificação. Foi aí que o futebol mostrou sua face mais cruel. Aos 45 minutos, Agudelo recebeu na área e reproduzindo mais uma vez as palavras de Galvão Bueno: “Olha a chance do Once Caldas, olha a finta, a batida... é goooool do Once Caldas”. Para o São Paulo, o sonho do tri acabava ali. Já os colombianos, estavam a 180 minutos de fazer história, ante o Boca Juniors.
Durante os dez minutos finais, o Tricolor se lançou ao ataque, tentando garantir a classificação. Foi aí que o futebol mostrou sua face mais cruel. Aos 45 minutos, Agudelo recebeu na área e reproduzindo mais uma vez as palavras de Galvão Bueno: “Olha a chance do Once Caldas, olha a finta, a batida... é goooool do Once Caldas”. Para o São Paulo, o sonho do tri acabava ali. Já os colombianos, estavam a 180 minutos de fazer história, ante o Boca Juniors.
A final
Nada foi fácil para o Once Caldas. Depois de uma
classificação nos pênaltis e outra aos 45 do segundo tempo, só faltava um
adversário para que a agremiação de Manizales chegasse ao título. Porém, esse adversário
era “só” o Boca Juniors, que entrou na competição como atual campeão,
vencedor de três das últimas quatro edições.
A primeira partida da final seria realizada em La Bombonera,
onde os argentinos haviam vencido cinco dos seis compromissos que realizou em seus domínios
(o único a não perder foi o São Caetano, que empatou em 1-1 e foi derrotado nos
pênaltis, em partida válida pelas quartas de final). O Estádio Alberto J. Armando,
como sempre, estava pulsando para ver os xeneizes conseguirem um resultado
que lhes aproximasse do sexto título da Libertadores.
O Once Caldas podia ser uma zebra pelo nome, mas não pelo elenco e pelo futebol jogado nas doze partidas anteriores. Um estilo rápido e um ataque de respeito, aliados a uma defesa consistente, que permitia
um estilo de jogo trabalhado na retranca quando era necessário - como se viu nos primeiros 90 minutos da semifinal.
Os primeiros minutos foram todos do Boca. Sem grandes
chances, mas com o domínio completo e absoluto da posse de bola. Sem nenhuma pressa
para encontrar um espaço na zaga colombiana, muito bem armada pelo técnico Luiz
Fernando Montoya, por sinal. Embora esses espaços não aparecessem e o esquema
de Montoya estivesse rendendo, era nítido o nervosismo do Once Caldas. Faltas
duras, passes errados, nada disso combinava com aquele frio selecionado que se apresentou nas fases anteriores do mata-mata.
O empate estava de bom tamanho para os visitantes, mas era difícil imaginar que o Boca passasse noventa minutos sem marcar em seus domínios, algo que ainda não havia acontecido na competição. Na primeira etapa, os donos da casa mandaram duas bolas no travessão: uma na cabeçada de Álvarez, aos 23 minutos, e outra em um chute de Ledesma, aos 31.
O empate estava de bom tamanho para os visitantes, mas era difícil imaginar que o Boca passasse noventa minutos sem marcar em seus domínios, algo que ainda não havia acontecido na competição. Na primeira etapa, os donos da casa mandaram duas bolas no travessão: uma na cabeçada de Álvarez, aos 23 minutos, e outra em um chute de Ledesma, aos 31.
No segundo tempo, o Boca aumentou a pressão, mas, sem
inspiração, pouco criou. Os minutos se passaram e os donos da casa não vazaram
o Once Caldas, que voltou do intervalo mais calmo e ainda mais fechado.
Ironicamente, a melhor chance da etapa final foi colombiana. Soto, aos 33
minutos, acertou o travessão de Abbondanzzieri, em uma cobrança de falta que
lembrou a do gol da classificação contra o Santos. O Once Caldas
conseguiu o que queria: levar a decisão para sua casa, assim como fez contra
Barcelona, Santos e São Paulo. Para que o maior feito da história do clube
fosse alcançado, faltavam noventa minutos. Ou talvez mais...
Hora de erguer a taça
“Sua torcida parece
não entender que o que se jogará aqui será uma final”. Foi assim que o
narrador Mariano Closs, da Fox Sports Latina, definiu o clima do Estádio
Palogrande para a decisão. O campo estava lotado, embora bem mais tímido que a
Bombonera da semana anterior. Era como se nem eles acreditassem porque estavam
ali. Nesse clima, Boca Júniors e Once Caldas partiram para a decisão. O Boca,
tinha como baixa Schellotto, que se lesionou e ficou de fora da partida. Os locais então, foram com força máxima para o jogo mais importante de seus 43 anos.
E não demorou muito para que a decisão saísse do zero a
zero. Aos sete minutos, Jhon Viáfara soltou uma bomba de fora da área e acertou
o ângulo do gol de Pato Abbondanzzieri, colocando o Once Caldas à frente do
placar, para a completa alegria e ao mesmo tempo, incredulidade da hinchada colombiana. Depois do gol, o
mandante dominou as ações e, logo aos 15 minutos, Alcazar só não marcou o
segundo por ter se desequilibrado e caído na entrada da área.
Minutos após, o Boca saiu um pouco mais para o ataque, mas não criou
grandes oportunidades. O confronto se arrastou até o fim de um primeiro tempo que
deixou a desejar em técnica e emoção, mas que havia posto “los blancos” a 45
minutos do título.
O segundo tempo começou equilibrado, com o Once Caldas um
pouco mais ofensivo, tentando matar a disputa. Só que aos seis minutos, Chavez
cobrou uma falta pelo lado direito, quase um escanteio, e Burdisso testou para
dentro do gol colombiano: 1-1 e a decisão totalmente em aberto. Depois do
empate, o medo de perder foi mais forte que a vontade de ganhar, e as duas
equipes optaram por uma estratégia mais cautelosa. “Alea jacta est”, em latim para "a sorte está lançada": a decisão da Libertadores da América de 2004
seria nos pênaltis.
O Once Caldas já havia vencido um adversário nos pênaltis –
foi o Barcelona, nas oitavas. O Boca, por sua vez, passou por dois concorrentes nas
penalidades– pelo São Caetano, nas quartas, e no clássico contra o
River Plate, pela semifinal. Além disso, o plantel de Bianchi sempre foi conhecido
por sua precisão em disputas desse calibre. Desde 2000 até aquela decisão, foram
seis vitórias em seis ocasiões, incluindo a final da Copa Intercontinental de
2003, contra o Milan. Isso sem falar nas finais das Libertadores de 2000 e 2001, contra Palmeiras e Cruz Azul, respectivamente.
A coisa começou bem para o Boca. Valentierra, um dos heróis
da campanha colombiana, bateu mal e Abbondanzieri não teve muito trabalho para
fazer a defesa. Mas, como diria Galvão Bueno, “não era diiiiia do futebol
argentino”. Schiavi bateu forte, a bola subiu e foi para fora. Ao fim da
primeira série, 0-0. Soto chutou no canto esquerdo de Pato e abriu o placar,
1-0. Cascini, não chutou tão forte assim e Henao pulou para fazer uma tranquila
defesa, deixando o time da casa em vantagem. A alegria colombiana durou pouco:
Oregón bateu mal, no meio do gol, e o goleiro xeneize não teve
trabalho para defender.
Burdisso, autor
do gol de empate no tempo normal, encheu o pé e a bola acertou o travessão.
Estava difícil acertar o gol e, seis cobranças depois, apenas uma havia entrado
– a favor dos colombianos. Na quarta cobrança colombiana, Agudelo fez o
simples: bola para um lado, goleiro para o outro e rede. Once Caldas a um gol
do título, 2-0.
Não foi necessário fazer o “gol do título”, pois simplesmente o esquadrão boquense não estava mesmo predestinado a erguer o caneco. Cangele bateu mal e Henao defendeu com
facilidade, para selar a conquista do Once. O Boca, imbatível em
cobranças de pênaltis, errou todas as quatro cobranças.
Pela segunda vez na história, o título da Libertadores
ficava na Colômbia. Quinze anos depois do título do título do Atlético
Nacional, o Once Caldas era o campeão da Libertadores. O mais surpreendente
campeão que a América já viu.
Once Caldas: Henao;
Rojas, Vanegas, Cataño e García (Ortegon); Viáfara, Velásquez, Viáfara e
Valentierra; Moreno (Díaz) e Alcazar (Agudelo). Técnico: Luiz Fernando Montoya.
Boca Juniors: Abbondanzieri;
Perea, Burdisso, Schiavi e Rodriguez; Villarreal, Cascini, Vargas e Cagna
(Caneo); Tévez e Cangele. Técnico: Carlos Bianchi.
Campanha: 14
jogos (seis vitórias, sete empates e uma derrota); 17 gols marcados e dez sofridos.
Jogos
Primeira Fase
Once Caldas 3 x 0 Fênix
Unión Maracaibo 1 x 2 Once Caldas
Vélez Sarsfield 2 x 0 Once Caldas
Once Caldas 2 x 0 Vélez Sarsfield
Once Caldas 2 x 1 Unión Maracaibo
Fênix 2 x 2 Once Caldas
Oitavas de Final
Barcelona 0 x 0 Once Caldas
Once Caldas 1 x 1 Barcelona (4-2
nos pênaltis)
Quartas de Final
Santos 1 x 1 Once Caldas
Once Caldas 1 x 0 Santos
Semifinal
São Paulo 0 x 0 Once Caldas
Once Caldas 2 x 1 São Paulo
Final
Boca Juniors 0 x 0 Once Caldas
Once Caldas 1 x 1 Boca Juniors
(2-0 nos pênaltis)
Leonardo Dahi tem 14 anos e é estudante. Nas horas vagas comanda o Preto no branco, verde no rosa e divide as atenções com o Boleiros da geração Y e Brasil decide.
"O que mais me fascina no futebol, são as reações - às vezes, das mais inesperadas - que ele provoca. O sujeito mais tímido é capaz de cantar alto, o ateu mais convicto aprende a rezar. Por tratar com o imponderável, o futebol é capaz de transformar as pessoas, ainda que por apenas 90 minutos."
No twitter, @dahileonardo.
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