segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Fomos Campeões: Uma América tricolor

Foto: Lancenet
São Paulo de Telê Santana derruba o Newell's de Bielsa e conquista a América de forma inédita; equipe campeã até hoje encanta amantes do futebol ao redor do mundo

Em uma época em que a Libertadores não tinha o mesmo peso que tem hoje, o São Paulo de Telê Santana e Raí venceu o Newell's Old Boys de Marcelo Bielsa na final e sagrou-se, pela primeira vez, campeão da maior da competição interclubes da América do Sul.

Credenciado pelo título brasileiro conquistado em 1991, o São Paulo chegava para disputar a Taça Libertadores de 92 com o status de melhor clube do Brasil, o que acarretou em um considerável aumento da popularidade da equipe. No entanto, chegou para a maior competição interclubes da América do Sul sem se preocupar muito em ganhar. Eram frequentes as declarações do técnico Telê Santana minimizando a falta de organização e as atitudes desumanas e agora conhecidas peculiaridades do torneio.

Em meio a diversas polêmicas nos bastidores, a verdade é que dentro de campo os jogadores também não estavam muito preocupados em conquistar a América, sentimento comum a todos os concorrentes que disputavam a taça, diferentemente dos dias de hoje, em que virou obsessão, questão de honra e glória.

Com este panorama, o Tricolor do Morumbi entrava para disputar a competição no Grupo 2, junto ao conterrâneo Criciúma, além dos bolivianos Bolívar e San José.

Estreia complicada e mudança de opinião
Se o técnico, os jogadores e a diretoria não se importavam muito com a competição, então, todo o tratamento de início foi bastante desleixado. Tanto que na estreia contra o Criciúma, em jogo a ser realizado no Heriberto Hülse, o Tricolor mandou a campo uma equipe praticamente inteira reserva e o resultado foi péssimo. O Tigre venceu por 3 a 0 e fez Telê Santana revisar a forma como estava tratando a Libertadores, ainda mais depois que o São Paulo entrou em um momento péssimo, chegando a ter cinco derrotas consecutivas.

Necessitando de uma vitória para acalmar os ânimos internos e recuperar a confiança, o São Paulo desembarcava na Bolívia para encarar dois confrontos. O primeiro, contra o San José, contou com uma atuação genial do recém-chegado atacante Palhinha, que marcou os três gols da reação por 3 a 0. O segundo, diante do Bolívar, foi mais complicado. Os paulistanos receberam um tratamento péssimo na cidade de La Paz, mas mesmo assim saiu de campo tendo o que comemorar. Raí marcou um gol nos minutos finais e assegurou o empate de 1 a 1, um pontinho da bagagem.

Passados os jogos como visitantes, o time paulista buscava garantir a vaga na próxima fase com os embates no Morumbi e logo de cara, os comandados de Telê Santana não titubearam ao encararem o Criciúma e vingarem a derrota na estreia com contundentes 4 a 0. 

O triunfo sobre os catarinenses animou a torcida e a diretoria, que decidiu aumentar a premiação por vitória após a goleada. No entanto, diante do San José, o Tricolor sentiu falta de Müller, que não pôde atuar devido a um problema na coxa, e apenas empatou em 1 a 1. Resultado que não fez tanta diferença já que, na última rodada da fase de grupos, o clube do Morumbi venceu o Bolívar por 2 a 0 e garantiu-se na oitavas de final como segundo colocado de seu grupo, visto que o Criciúma somou um ponto a mais e avançou como líder.

O mata-mata
Nas 8ªs de final, o São Paulo teria o tradicional Nacional do Uruguai pela frente. Um desafio que já era complicado, complicou-se ainda mais quando, após ser expulso em um embate contra o Goiás pelo Campeonato Brasileiro, o lateral Nelsinho, que já tinha mais de 10 anos de São Paulo, foi afastado do elenco pelo corpo diretivo, fato este que deixou o elenco bastante indisposto, mas, com o conturbado ambiente, a equipe foi a Montevidéu enfrentar os uruguaios, venceu por 1 a 0, gol marcado por Elivélton e não comemorado por nenhum jogador em represália a decisão da diretoria, e ainda teve o goleiro Zetti sendo expulso.

Para o jogo de volta, a situação interna teve uma melhora quando Raí tomou frente e prometeu que o time iria batalhar até o fim para ser campeão e dedicar a taça para Nelsinho. Auxiliado por essa melhora no ambiente, o São Paulo não correu maior riscos na volta, fez 2 a 0 e garantiu-se na fase de 4ªs de final, fase em que reencontraria o Criciúma.

Foto: Gazeta Esportiva.net
Diante dos catarinenses, o Tricolor foi obrigado a furar uma enorme retranca na partida de ida para garantir a vitória. No fim, o resultado foi um magro 1 a 0, que apenas veio após Macedo, antes contestado pela torcida, bater bonito de fora da área para sacramentar a vitória são-paulina, contribuindo para que o time viajasse para Santa Catarina em vantagem.

Jogando em casa, o tigre buscou surpreender e, logo de cara, abriu o placar com Soares, no entanto, o São Paulo sofreu, viu sua classificação ser posta em xeque, contudo, mostrou o porque de ser tão favorito ao título. No 2° tempo, a estrela de Raí brilhou e o meia fez o gol que colocou sua equipe na semifinal da Libertadores.

Na semifinal, o adversário seria o equatoriano Barcelona de Guayaquil. Na ida, devido a suspensão, Raí não pôde jogar, mas também não fez falta. Müller, Palhinha e Rinaldo marcaram, o placar foi sacramentado em 3 a 0 e o São Paulo viajou confortável para a volta no Equador. Tão confortável que a equipe quase se complicou, perdeu por 2 a 0, mas garantiu-se na grande decisão contra o Newell's Old Boys de Marcelo Bielsa, que eliminara o América de Cali nos pênaltis na fase semifinal.

A grande final
O primeiro jogo da grande final seria realizado na Argentinas e as coisas não foram fáceis. Em um estádio completamente lotado, o São Paulo sucumbiu diante do Newell's de Bielsa, perdeu por 1 a 0, gol marcado por Berizzo de pênalti, e passou a ter a obrigação de vencer no Morumbi para sagrar-se campeão da América.

No Cícero Pompeu de Toledo, a equipe de Telê Santana não teria tarefa nada fácil. Além da desvantagem, o adversário vivia um momento espetacular ao esbanjar-se por ter o melhor ataque da Libertadores, além de uma campanha invicta até tal ponto da competição.

Embora o adversário fosse forte, o Tricolor desde os primeiros minutos mostrou que não estaria disposto a perder por nada nesse mundo e pressionou durante o jogo inteiro, todavia, deixou espaços para o Newell's contra-atacar e o jogo foi cercado de emoções até que, aos 37 minutos do segundo tempo, a ousadia são-paulina foi premiada, o time teve uma penalidade máxima a seu favor e Raí bateu. Pronto. Estava definido. 1 a 0 no tempo normal e a Libertadores de 1992 seria decidida por meio da decisão por pênaltis.

Chegou a decisão por pênaltis. Nervosismo à flor da pele. O primeiro a bater foi Newell's, que viu Berizzo desperdiçar sua cobrança e, logo depois, Raí acertar. Os que bateram em seguida foram Zamora e Ivan, que converteram. Eis que chegou a terceira série de cobranças, nela, os argentinos acertaram com Llop, já Ronaldão cobrou para a defesa do goleiro Scarponi.

Tudo estava igual novamente. O nervosismos no Morumbi estava em seu ápice quando Mendonza desperdiçou sua cobrança, fazendo com que o São Paulo voltasse a frente do placar já que Cafu não perdoou e colocou pra dentro.

Chegou a 5ª série de cobranças. A responsabilidade do time argentino estava toda depositada em Gamboa, logo ele que havia sido um verdadeiro monstro durante os dois jogos. O zagueiro toma distância, parte pra bola e a pelota vai tomando seu rumo, tendendo a, carinhosamente, adentrar o canto esquerdo do goleiro Zetti, mas o arqueiro estava atento e pula para evitar o gol. Estava decretado. O São Paulo conquistava pela primeira vez a América, para a alegria de mais de 100 mil pessoas que fizeram uma das festas mais maravilhosas e épicas do futebol brasileira ao invadirem ao campo para saudarem seus ídolos, seus heróis.

São Paulo: Zetti; Cafu, Antônio Carlos, Ronaldão e Ivan; Adílson, Pintado, Raí e Palhinha; Müller (Macedo) e Elivélton Técnico: Telê Santana

Newell's: Scoponi; Llop, Gamboa, Pochettino e Saldaña; Berti, Berizzo, Martino (Domizzi) e Zamora; Lunari e Mendoza Técnico: Marcelo Bielsa

Campanha: 14 jogos (8 vitórias, 3 empates e 3 derrotas); 20 gols marcados e 9 sofridos

Primeira Fase
Criciúma 3 x 0 São Paulo
San José 0 x 3 São Paulo
Bolívar 1 x 1 São Paulo
São Paulo 4 x 0 Criciúma
São Paulo 1 x 1 San José 
São Paulo 2 x 0 Bolívar

Oitavas de final
Nacional 0 x 1 São Paulo
São Paulo 2 x 0 Nacional 

Quartas de final
São Paulo 1 x 0 Criciúma
Criciúma 1 x 1 São Paulo

Semifinal
São Paulo 3 x 0 Barcelona de Guayaquil
Barcelona de Guayaquil 2 x 0 São Paulo

Final
Newell's Old Boys 1 x 0 São Paulo
São Paulo 1x0 Newell's Old Boys (3-2 nos pênaltis)



Felipe Ferreira tem 15 anos e é estudante. Escreve para vários blogs como Bundesliga Brasil e Premier League BR, além de ser dono do Schalke BR, site especializado em cobertura da equipe alemã.

"É difícil falar o que eu mais gosto do futebol. Não é uma só coisa, são vários fatores. A forma como a qual a torcida vibra nas arquibancadas, a dinâmica do jogo, toda aquela história de que o jogador pode ir de herói a vilão em questão de minutos. Sem contar a enorme emoção e todas as surpresas que o saudoso esporte bretão sempre nos reserva."

No twitter, @felipepf13.

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