segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

ColunEuro

Foto: Fox Sports
Roma chega a três partidas sem vencer pela Serie A e sonho de vaga europeia vai entrando pelo ralo; defesa frágil é o principal ponto a se debater na formação de Zeman


Meus caros, para começar com essa coluna semanal aqui na TF, eu precisava falar de algo que conheço a fundo. No primeiro post da ColunEuro, que vai entrar sempre às segundas juntamente com o Eurotrem do menino Paneque, falo da Roma: esta máquina de sofrimento comandada por Zdenek Zeman.

O proletariado romano (em especial o romanista) tem sofrido durante esta que é conhecida como a Era Zeman. É o reinado da ofensividade, do contragolpe desenfreado e especialmente dos muitos gols sofridos. O velho tcheco já passou pelo Olímpico na década de 1990 (treinando Lazio e a própria Roma de 1994 a 97 e de 1997 a 99, respectivamente) e não levou nenhuma taça. 

Eis que o segundo reinado do professor já tem seus prós. Assim como muitos contras. O 4-3-3 que consagrou o Pescara na última edição da Serie B italiana e que acompanha Zeman por quase toda a sua carreira continua lá. Com os mesmos problemas. Parece estar escrito em pedras de Jerusalém que a Roma irá sempre sofrer forte pressão, quem quer que esteja do outro lado.

Coincidência ou não, as piores partidas do sefor defensivo giallorossi acontecem quando o jovem promissor Marquinhos não está em campo. Castán ainda peca muito em suas principais características: o desarme e o acompanhamento dos homens de frente rivais. Burdisso então, mal colocado, sempre acaba dando mais trabalho para o seu arqueiro.

É bem verdade que hoje o time tem muito melhor finalização e aproveitamento de ofensivas do que o ridículo escrete escalado por Luis Enrique em 2011-12. Isso tem seu preço, claro: uma fragilidade desnecessária lá atrás, já que a vocação do velho Zdenek é mesmo atacar e esquecer de se proteger do bombardeio alheio. O meio campo deveria ter mais um homem para ajudar na marcação e aliviar um pouco o peso nas costas dos articuladores. Quase sempre com Bradley, Florenzi e Pjanic (alternando com Tachtsidis), a meia cancha romanista segura bem a bola e liga com eficiência até os três atacantes. Entretanto, é preciso se ressaltar que se houvesse um jogador com mais perfil defensivo e responsável por proteger a zona entre o círculo central e a meia lua, a coisa não seria tão dramática assim.

Um grande reflexo desta Roma pode ser notado em dois jogos específicos: a vitória por 4-3 sobre o Milan em dezembro e o empate deste domingo frente o Bologna, por 3-3. Contra os rossoneri, tudo funcionou bem. O ataque era perigoso, torturava Abbiati, e a defesa comandada por Marquinhos (não, você não leu errado) jogava com tranquilidade. Quando a bola passava da linha de quatro, Goicoechea estava inspirado para defender a meta. Foi só o brasileiro ex-corintiano ser expulso numa jogada besta que tudo virou. Mais cinco minutos e os milanistas certamente teriam empatado (ou até mesmo vencido).

Mestre em incrementar seus ataques com veneno, a formação de Zeman é por vezes (para ser bonzinho) desorganizada quando pega em velocidade. Sempre de calças curtas, Burdisso perde todas as corridas que tentar, mesmo se o Saci estiver com a pelota. E assim o estilo clássico de jogo vai ganhando consistência e levando qualquer torcedor a ataques de nervos. Faz muitos gols, mas leva outros e de forma imperdoável. Ou em outra síntese mais ligeira: balança a rede do oponente e relaxa. Bem o amigo leitor sabe que quando o gato sai, os ratos fazem a festa. Pois bem, foram dois tentos ridículos sofridos para o Bologna no Renato Dall'Ara.

Este time não ganha
Quando você pensa que a Roma está para engrenar, ela empaca e fica estagnada nos seus incontáveis empates. O gol de Florenzi na primeira etapa diante do Bologna poderia significar uma arrancada, especialmente depois do triunfo sobre a Internazionale na Coppa Italia, no meio da semana passada. Mesmo que ainda haja uma partida de volta, os comandados de Zeman levam vantagem e ultimamente até podem ostentar certo favoritismo em relação aos nerazzurri de Andrea Stramaccioni, cria de Trigoria.

Não fosse o famoso apagão defensivo e um mundaréu de gols bobos sofridos, a história seria outra. Os romanistas não souberam se portar em campo nesta jornada, pareciam nervosos, aflitos, errando passes curtos. A escassa criação forçava Osvaldo e Pjanic (improvisado na ponta esquerda) a tentarem corridas impossíveis nos flancos. Só uma sobra ajudaria,  pois tentar algo de cabeça contra a retaguarda de Stefano Pioli era inútil. Antonsson e Sorensen são altos demais para os nanicos Totti e Pjanic. Osvaldo deveria ter sido colocado como centroavante e não segundo atacante/ ou homem que abastece o capitão.

Sem Marquinhos e com o lambari Burdisso no miolo de zaga, era facílimo imaginar Gilardino guardando uma bola quicada qualquer na área, ou subindo de cabeça desmarcado para mandar para as redes. A brusca mudança de ares no confronto não foi vista pelo velho Zdenek, que provavelmente estava ocupado  demais acendendo um cigarro no banco. Gila aproveitou dois momentos CRÍTICOS de vacilo romanista para empatar. Um lançamento longo que passou por entre os beques e o rebote dado por Goicoechea, que indefeso, foi vazado pelo camisa 10 felsinei. Ninguém estava atento o bastante para evitar o desastre.

A única bola alta eficiente do ataque romanista foi na cabeça de Osvaldo, que desempatou ainda na primeira etapa. Foi aí que pintou um passe alto para Gabbiadini. O rapaz teve tempo de dominar e carregar até a área. Quatro defensores voltaram para proteger, mas nenhum deles deu o bote. Resultado: teve tempo de chutar no canto e empatar outra vez. A imagem logo após o gol do time da casa mostrava um insatisfeitíssimo Stekelenburg, amargando a reserva. Aliás, o holandês andou criando picuinha por ser suplente do uruguaio e gerou o maior bafafá. Por sorte o professor não entrou na onda de Steke e manteve o sul-americano firme e forte na vaga.

Para o lamento dos torcedores, o Bologna virou. Pasquato completou um lance chorado e anotou o terceiro num outro rebote. Na opinião desse escriba, era um daqueles momentos de infortúnio, nem todo de incompetência. Burdisso tentou cortar, trombou com Goicoechea e sobrou no pé do adversário. 3-2 no placar. Agliardi, na outra baliza, também teria seu momento de lamúria. Saiu ao alto para catar borboletas e Tachtsidis botou a cabeça para desviar. 3-3 o resultado e três compromissos da Roma pela Serie A sem vitória. Dois empates e uma derrota (inacreditável para o Catania, com mil gols perdidos por Destro) tiram o sono de quem pretende brigar de fato por uma vaga europeia.

Acima de tudo, acompanhar os onze de Zeman parece ser um esforço imenso. Dá pra entender a quantidade de cigarros fumada pelo treinador. De fora, o torcedor deve morrer de vontade fazer o mesmo. Pra que tanta emoção?



Felipe Portes é estudante de jornalismo, tem 22 anos e é redator no Trivela, além de ser o dono e criador da Total Football. Work-a-holic, come, bebe e respira futebol.

"O futebol na minha vida é questão de fantasia, de imaginário. Fosse uma ciência exata, seria apenas praticado por robôs. Nunca fui bom em cálculos e fórmulas, o lado humano me fascina muito mais do que o favoritismo e as vitórias consideradas certas. Surpresas são mais saborosas do que hegemonias.

No twitter, @portesovic.

Um comentário:

Anônimo disse...

Graças ao Zeman (não só por causa dele, é verdade, mas deixa a discussão para outro dia), também, temos um campeonato italiano de jogos imprevisíveis. As partidas contra Milan, Bologna e Fiorentina foram sensacionais. Sacrifica-se o sistema defensivo, perde a Roma, mas ganha o futebol. Nos times dos outros, eu apoio.