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Foto aleatoriamente colada (Futebol Interior) |
Para muitos atletas sem tanta sorte assim no futebol brasileiro, a fama se faz necessária; ainda que muitas vezes não por algo louvável, propriamente dito
Paulo nasceu na zona rural de Echaporã, interior de São Paulo. Na adolescência, lhe enfiaram na cabeça que ele não seria um lavrador, mas um futebolista. Anos depois, ele se transforma em Paulão, volante viril com passagens por dezenas de times das divisões menores do futebol paulista.
Ponta-esquerda da Santacruzense, lateral-direito do Flamengo de Guarulhos, camisa 10 do Audax... Jogadores e mais jogadores agradeceram aos céus pela invenção da caneleira ao cruzarem com Paulão. Em outros casos, porém, o acessório não foi páreo para a truculência do volante. Trabalho para os médicos e fisioterapeutas paulistas.
Paulão nunca conquistou títulos. Conseguia acessos da A-3 para a A-2 quando o time em que jogava era vice, no máximo. Paulão, muitas vezes, nem era titular. Era o cara que entrava no lugar do centroavante aos 39 do segundo para segurar um empate fora de casa. Para Paulão, a glória era dar um bico capaz de jogar a pelota para fora do estádio do Sertãozinho.
Nunca houve vergonha em ser medíocre, Paulão se habituara ao ostracismo. Mas por estas circunstâncias da vida que premiam o improvável, o clube de Paulão ficou em quarto lugar na A-2 do paulista e foi promovido à elite do estadual no ano seguinte. Sem muitos patrocinadores, com grana curta e poucas opções de contratação para a "meiúca", Paulão ficou no plantel para a disputa da A-1. Um tsunami de vaidade inundou o volante. Finalmente a chance de jogar contra os grandes, finalmente a chance de estar no Morumbi, finalmente um jogo transmitido por um canal que não a Rede Vida. Paulão não cabia em si.
Nas duas primeiras rodadas, o anti-herói esquentou o banco. Era ali, sentado, que ele assistia às pelejas se mordendo de vontade de sujar os fundilhos do short com seus famigerados carrinhos. Ansiedade, tensão, nervosismo e frustração se misturavam no peito do nada glorioso camisa 15.
Chegaria então a terceira rodada. O titular responsável pela proteção dos zagueiros havia sido expulso contra o Penapolense. Paulão confirmado entre os 11 titulares. Para completar o cenário perfeito, o jogo seria contra o Santos, na Vila, com transmissão na TV aberta.
Paulão, 28 anos, em um "timeco" do interior, provavelmente jamais teria outra chance de ser lembrado. O que ele poderia dizer aos três filhos além de contar das canelas anônimas que quebrara por aí? Como fazer seu nome ser dito pelo narrador mais de uma vez? Como ficar na memória do povo brasileiro sendo apenas um volante que tem a bola como pior inimiga de sua função?
Neymar! pensou Paulão... O volante fez o que sempre soube. O Brasil perdeu seu craque e a Copa de 2014. Barbosa perdeu seu posto de vilão. Paulão Eterno!
Felipe Modesto tem 25 anos e é jornalista formado e atualmente trabalha como repórter e apresentador no SBT Interior, em Araçatuba.
"Técnica, tática, física, química, biologia, verso e prosa. O futebol é capaz de entreter, modificar realidades, criar histórias reais e surreais. Além de tudo, muitas vezes, um jogo de futebol consegue ser um simulacro da vida".
No twitter, apesar de ausente, @sigaomodesto.
Felipe Modesto tem 25 anos e é jornalista formado e atualmente trabalha como repórter e apresentador no SBT Interior, em Araçatuba.
"Técnica, tática, física, química, biologia, verso e prosa. O futebol é capaz de entreter, modificar realidades, criar histórias reais e surreais. Além de tudo, muitas vezes, um jogo de futebol consegue ser um simulacro da vida".
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