domingo, 6 de janeiro de 2013

As definições de idolatria foram atualizadas

Foto: UOL Esportes
Assunção conseguiu em um mês desconstruir a imagem de ídolo que tinha na torcida palmeirense; a alta pedida nos salários na atual situação denota um desinteresse do meia em permanecer no clube

Não é um exercício tão complicado assim pensar nas principais características ou requisitos mínimos de um ídolo. Especialmente em times grandes, o torcedor quer mesmo é ver alguém que se dedique, demonstre amor às cores do clube e claro, bom futebol. Raramente um pé rapado vai ganhar uma bandeira com um retrato seu ou homenagens. 

Num mundo em que cada vez mais os nossos craques são seduzidos por dinheiro (o que já não é nenhuma novidade), é perfeitamente aceitável perder um bom talento após um ou dois anos de sucesso. Nossos garotos raramente alcançam a marca de 200 jogos, sempre partindo para a Europa ou até o Oriente médio atrás da tão sonhada independência financeira. Não se pode culpá-los por buscar o melhor para suas famílias.

Antes fosse esse texto uma crítica aos garotos que antes mesmo de amadurecer, deixam suas equipes no Brasil. Neste domingo, após uma novela criada e desencadeada pelo rebaixamento palmeirense, Marcos Assunção, aos 36 anos de idade, resolve criar um impedimento para renovar com o alviverde da Turiassu. Capitão do elenco e maior liderança desde a aposentadoria de Marcos, o camisa 20 foi sim um dos mais importantes jogadores no ano de 2012, especialmente na conquista da Copa do Brasil. 

Já em idade avançada e prejudicado por lesões, o volante (que já não marca como outrora) acabou não tendo a participação desejada na reta final do Brasileirão, mas que se ressalte a vontade do atleta em lutar contra a sua condição física. Carregando um problema crônico nos joelhos, muitas vezes o capitão palmeirense entrou em campo na base do sacrifício. Evidente que não rendeu, mas em nenhum momento foi contestado ou criticado nessas ocasiões.

Ao fim de 2012, as negociações em torno da renovação do contrato se complicaram e um impasse se fez presente. Ganhando cerca de R$ 120 mil reais, Assunção chegou a pedir R$ 400 mil, de acordo com reportagem no UOL. Mesmo abaixando a demanda salarial, o meia não conseguiu estabelecer com a diretoria um ponto em que ambos concordassem.

Revoltada, a torcida se manifestava a favor de Assunção. Quando veio à tona a informação de que na verdade o entrave era do jogador, a coisa foi mudando de figura. Inevitavelmente, toda aquela proteção que ele tinha por ser bravo e dedicado no ano anterior foi se desfazendo. É importante que alguns elementos sejam levados em consideração nessa história toda: ninguém é obrigado a renovar contrato, especialmente se abaixo do valor desejado; Assunção já está chegando aos 37 anos; sua forma está longe do ideal.

Quem ouvia o discurso de lutar pelo Palmeiras no ano passado, parece não crer na postura dele. Age como um cara qualquer, sem identificação. Para quem se propunha a ser ídolo, líder de vestiário ou porta voz de todo um plantel, Assunção vai indo na contramão da imagem construída desde 2010, quando chegou desacreditado e ganhou espaço rapidamente como o homem da bola parada e o cérebro do time. 

Esqueçam o traidor de 2011, que simulava dores no vestiário para ser poupado e/ou liberado para outros rivais no Brasileiro, esqueçam o chinelinho que só quer saber de farrear e tuitar pedindo apoio da massa alviverde. Talvez seja demais pintar o camisa 20 como mais um deles. É questão de gratidão pelos serviços prestados e sobretudo pela participação na campanha do título da Copa do Brasil. Mais do que isso é exagero, para quem pede um aumento considerável no ordenado antes dessa missão que é reerguer o Palmeiras. Poucos (e honrados) ficarão no barco. E que demonstrem garra neste 2013.

Ser ídolo em time grande não é só dar bicão para o alto, bater no peito a cada gol ou jogar para a torcida, provocando rivais e dando declarações como um integrante das bancadas faria. É preciso honrar as próprias palavras e ações, mostrar respeito à instituição e a quem paga ingresso toda partida, grita seu nome e compra a sua camisa. Louvado sejam os que QUEREM permanecer para mudar tudo isso, não os que ACEITAM imposições contratuais.

Nem todos os homens que vestem essas cores são palmeirenses, sabemos bem. Contudo, ajam como tal, pois futuro da agremiação é diretamente afetado pelas suas demonstrações de empenho ou desdém. Só não pensem com seus botões que ninguém vê que realmente dá o sangue e quem faz corpo mole.

A Assunção, um muito obrigado por tudo. E passar bem.





Felipe Portes é estudante de jornalismo, tem 22 anos e é redator no Trivela, além de ser o dono e criador da Total Football. Work-a-holic, come, bebe e respira futebol.

"O futebol na minha vida é questão de fantasia, de imaginário. Fosse uma ciência exata, seria apenas praticado por robôs. Nunca fui bom em cálculos e fórmulas, o lado humano me fascina muito mais do que o favoritismo e as vitórias consideradas certas. Surpresas são mais saborosas do que hegemonias.

No twitter, @portesovic.

Nenhum comentário: