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Foto: Elciudadanoweb |
Tiago Melo, @melogtiago
Quando
se pensa em uma fase vitoriosa do Newell’s Old Boys, a referência obrigatória é
o período em que Marcelo Bielsa comandou a equipe. Nada mais natural: foram
dois títulos nacionais, um vice de Libertadores, vários jogadores de alto nível
revelados e uma forma vertiginosa de jogar que marcou época e fez escola.
Mas
Bielsa não teve de montar sua equipe no vazio. Sua chegada ao posto de
treinador da Lepra coincidiu com uma outra era vitoriosa no clube. Em 1988 o
Newell’s foi campeão argentino e vice campeão da Libertadores. A grande
peculiaridade: com os onze titulares e toda a comissão técnica revelada em
casa.
O
grande responsável pela façanha talvez tenha sido Jose “Piojo” Yudica,
treinador histórico do futebol argentino. Um dos maiores técnicos da história
de seu país, e que certamente só não é mais conhecido e lembrado por ter
realizado suas grandes façanhas comandando equipes pequenas.
Yudica era um atacante, revelado
pelo Newell’s, com passagem pelo Boca Juniors, Estudiantes, Vélez, Platense e
outras equipes, chegando a defender a Argentina nas Olimpíadas de 1952. Mas
seus grandes momentos foram como treinador. Inicialmente levou o Quilmes a seu
primeiro e único título profissional, em 1978.
Após devolver o San Lorenzo à
primeira divisão, El Piojo foi para o Argentinos Juniors. Fez com que o Bicho
jogasse um futebol vistoso e envolvente, levantando um campeonato nacional e a
Libertadores de 1985. E em 1987 chegou ao clube do seu coração: o Newell’s.
A equipe rosarina tinha bons
jogadores. Alguns (Dezotti, Almirón, Sensini) chegaram a construir carreira na
seleção argentina, jogando mundiais pela albiceleste. Tanto que o Newell’s
havia sido vice-campeão em 1987. Pouco adiantou: como o campeão havia sido o
arqui-inimigo Rosário Central, o vice havia sido um completo desastre.
Desgastado
pela perda do título para o rival e por desavenças com os barras do clube, o
treinador Jorge Solari pediu o boné. Yudica utilizou a mesma base do ano
anterior, mas promoveu novos jogadores da base, incluindo nomes
como Gabriel Batistuta e Abel Balbo, atletas que não marcariam época com a
camisa do Newell's, mas também seriam astros da seleção nacional e no futebol europeu.
O
resultado foi avassalador. O Newell’s se sagrou campeão nacional de 1988 com
duas rodadas de antecedência ao aplicar um incrível 6 a 1 no Independiente.
Terminou o campeonato com 68 gols a favor, sofrendo apenas 21. Yudica se
transformava no primeiro comandante a conquistar o campeonato argentino por três equipes diferentes (Americo Gallego chegaria a mesma marca em 2004 ao vencer o
campeonato pelo próprio Newell’s; antes havia chegado lá com River Plate e
Independiente).
Mas
havia ainda a Libertadores daquele ano, disputada com um regulamento absurdo. O
Newell’s não fez uma campanha de destaque, mas as quatro vitórias, quatro empates e quatro derrotas o classificaram para as semifinais, graças às bizarrices da fórmula do
torneio. Nas semifinais os leprosos foram incontestáveis, despachando o San
Lorenzo com duas vitórias: 1 a 0 em Rosário e 2 a 1 em Buenos Aires. Pela
primeira vez na história uma equipe do interior argentino chegava a uma final continental.
Mas
o adversário seria o duríssimo Nacional. Treinada pelo lendário Roberto
Fleitas, a equipe uruguaia era repleta de jogadores talentosos e experientes,
como Hugo de León. Em Rosário o Newell’s se impôs por 1 a 0, gol de Gabrich.
Mas em Montevidéu o Bolso rapidamente reverteu a desvantagem. Vargas e
Ostolazza marcaram já no primeiro tempo, enquanto De León converteu um pênalti
já nos quinze minutos finais para liquidar a fatura.
A curiosidade inacreditável é a
seguinte: a Conmebol determinou que o saldo de gols seria válido como critério
de desempate, mas apenas após se jogar uma prorrogação. Ou seja, tendo vencido
por 1 a 0 em casa e perdido por 3 a 0 fora, o Newell’s ainda tinha a chance de
ser campeão, caso revertesse a desvantagem na prorrogação. O que não aconteceu, já que o placar se manteve, e os rosarinos tiveram de amargar o vice.
Chegava
ao fim o auge daquela equipe. Em 1989 o Newell’s fez uma campanha irregular no
campeonato local, ainda que nos play-offs tenha avançado até as semifinais. Em
1990 os leprosos não passaram do 12º lugar. Jose Yudica deixou a agremiação, e para
seu lugar veio Marcelo Bielsa, que levaria o nome do NOB ainda mais longe.
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