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Sheen foi perfeito como o mito Clough (Blog Cinephilia) |
De São Paulo-SP
*Obrigada ao Arthur Chrispin, @achrispin, pela sugestão no nome da coluna.
Qualquer apaixonado por futebol (principalmente futebol inglês), já ouviu falar em Brian Clough , um notório técnico dos anos 70, conhecido por resgatar times quase na terceira divisão do campeonato nacional e levá-los ao topo da primeira divisão e à Liga dos Campeões. Entre eles o Derby County e posteriormente o Nottingham Forest, onde ficou por 18 anos. O roteirista Peter Morgan retrata a passagem relâmpago de Clough no Leeds United. São mostrados os 40 dias (20 de julho a 13 de setembro de 1974) do técnico como comandante do então melhor time inglês da época.
O filme começa com Clough chegando ao Leeds e constrói em paralelo os acontecimentos de seis anos antes, quando ainda treinava o Derby além de mostrar o começo do ódio dele por Don Revie, o treinador dos whites na época. É interessante a abordagem da construção da crescente tensão entre ambos, deixando claro até onde o ódio pode chegar.
Revie era ídolo do Leeds e deixava o time após onze anos, para treinar a seleção inglesa. Seu comando foi bastante vitorioso, mas segundo Clough, seu futebol era agressivo e não passava de um mau técnico, que instruía seus jogadores a chegar duro em seus adversários e pressionar a arbitragem. Clough assumiu a equipe do Elland Road com uma postura de salvador, declarando que não toleraria agressividade por parte dos jogadores, afirmando que o que eles jogavam até então, não era futebol e que seus títulos não valiam de nada.
O grande trunfo de Maldito Futebol Clube é o fato de ele saber surpreender o público, mostrando uma narrativa nada óbvia.
A montagem paralela comentada acima mostra o início da carreira de Clough, sua amizade com Peter Taylor, até a ascensão de ambos como coringas no Derby County (da lanterna da segunda divisão para lutar pelo título da primeira divisão do campeonato nacional) e sua admissão no Leeds, onde ele tenta aplicar sua técnica e visão sobre o futebol. Acompanhamos sua empreitada aparentemente de sucesso, mas acaba se tornando um grande fracasso.
Michael Sheen interpreta incrivelmente Brian Clough, conseguindo dosar sua ambição, deslumbramento e muitas vezes sua raiva. Com apenas dez minutos de filme, os espectadores já tem uma visão exata de como é Clough. Nos deparamos com um personagem narcisista, egoísta, falastrão, encantado por si mesmo e seus feitos, que chega para dirigir um time ofendendo os jogadores e o ex-técnico, ídolo da torcida por anos a fio. Em um determinando momento do filme, vemos Clough como um vilão, que repudia qualquer coisa fora de sua doutrina.
Timothy Spall incorpora o ponderado Peter Taylor, mostrando um ponto de equilíbrio entre os dois personagens.
Tom Hooper soube dirigir o filme brilhantemente, dosando entre os momentos vitoriosos e o declínio de Clough. Vemos que o futebol não é o foco principal do filme, ele é apresentado apenas como motor da narrativa. Os jogos que poderiam ser apresentados com maiores detalhes, nos são mostrados apenas em momentos chaves. Um exemplo disso é uma cena em que o jogo é apenas ouvido do vestiário, onde vemos o técnico expulso, ouvindo a manifestação da torcida.
Maldito Futebol Clube foge do estereótipo de filmes sobre superação. Vemos uma lição de humildade e redenção sobre um personagem irritantemente inteligente e terrivelmente arrogante, que instrui o espectador a pensar sobre as expectativas, nos fazendo reconhecer que nem sempre tudo o que parece que vai ser, será.
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