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Gol de Sparwasser derrubou por um dia a Alemanha que seria campeã do mundo contra a Holanda de Johann Cruyff (Foto: Superillu.de) |
De Belgrado-SRB
Um gol em
Copas do Mundo significa mais do que uma medalha, um baú repleto de ouro para
um jogador. Um gol em clássico de Mundiais, um tanto a mais. Um gol com
significado libertador e que representou todo um conflito entre países irmãos,
no caso duas partes do mesmo país, não há riqueza que se iguale.
É o caso de
Jürgen Sparwasser, ex-atacante da Alemanha Oriental (parte comunista do país) e
que marcou o gol de seu lado da pátria contra a poderosa irmã ocidental e
futura bicampeã mundial em 1974. Numa época em que as mazelas políticas e a Guerra fria ecoavam em todos os cantos
do globo, o tento marcado por Sparwasser (77 minutos) foi o marco de uma
batalha travada dentro do gramado e fora dele.
Com a
Revolta de 1953 em território germânico, milhares de alemães do lado oriental
tiveram de se refugiar do outro lado do Muro de Berlim, para evitar a repressão
que havia contra os ideais comunistas. E
é neste cenário de luta pela soberania que o duelo entre as duas irmãs ocorreu
no mundial sediado em seu país.
Era 22 de
junho de 1974, no Volkspark Stadion, em Hamburgo. Pelo selecionado azul
oriental, alinhavam: Croy, Kurbjuweit, Bransch, Weise, Waetzlich, Kische,
Kreische, Lauck, Irmscher, Sparwasser e Hoffmann.
A Alemanha
Ocidental, de branco, escalou Meier, Vogts, Schwarzenbeck, Beckenbauer,
Breitner, Cullmann, Overath, Hoeness, Grabowski, Müller e Flohe.
O domínio
dos ocidentais era completo. Breitner passeava em campo, e Müller trazia muitas
preocupações ao goleiro Croy. Um dos bons lances azuis na peleja, foi com
Kreische, que desperdiçou chance vital debaixo das traves de Meier. A pressão
se manteve até que o camisa 14, Sparwasser, recebeu passe pelo alto, matou no
peito, tirou o marcador e entrou na área. Com espaço mínimo, ele fuzilou o arqueiro Meier, que nada pode
fazer.
Com
cambalhotas, Sparwasser não sabia ao certo como externar a sua alegria de ter
marcado num jogo tão desigual. Antes de ser um confronto entre duas faces de
uma Alemanha, era um jogo entre um gigante e uma equipe mais acanhada, sem brilho.
Num dos raros casos em que a vontade sobrepõe ao talento, a DDR (denominação
para o lado oriental germânico) viu o futebol como válvula de escape aos
terríveis anos que se passaram por questões políticas e ideológicas.
O gol de
Jürgen foi quase como um grito de
liberdade. Contam os mitos do mundo da bola, que ele recebera prêmios do
governo comunista da DDR, como um carro e uma propriedade. Os atos, vistos como
manobra governamental para explorar o seu feito. Sensato e sem intenção de se
alinhar ao movimento, Sparwasser sempre negou com veemência que tivesse sido
“agraciado” pelos chefes de estado, tendo inclusive deixado o seu país em 1988,
pouco antes da queda do Muro de Berlim.
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